O padre-cantor Fábio de Melo, de 53 anos, está passando por uma provação: superar uma depressão, que vem lhe acompanhando. O primeiro desabafo veio em um show, na Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata, onde abriu o coração para milhares de fiéis, há pouco mais uma semana. Disse que “deixar de viver” era um sentimento que o acompanhava há dias. Mas o calor dos fãs ajudou a acalmá-lo e ao deixar o palco disse estar renovado. Mais recentemente, outra onda de tristeza e melancolia, veio o segundo desabafo, agora pelas redes sociais.
Com voz embargada e olhos marejados, o padre falou sobre o fato de ser uma pessoa propensa a fortes emoções. “Já me acusaram de ser muito emocionado. Falaram como se fosse um defeito, mas eu sei que não é”, disse aos seguidores. “Minha alma sob sombras tem o hábito de viver as alegrias com a consciência de que estão terminando.”
O fato de um padre, jovem e popular compartilhar que sofre de depressão, doença considerada pela Organização Mundial de Saúde, o mal do século, é visto com bons olhos pelos especialistas. Uma em cada dez pessoas tem depressão no mundo. “Houve uma época em que as pessoas escondiam a doença. Ela gera impotência e somada à vergonha, como se fosse uma espécie de fraqueza, os pacientes deixam de procurar ajuda”, diz Elton Kanomata, psiquiatra do Hospital Albert Einstein. “O padre desconstrói esse estigma, que ainda existe.”
O desabafo veio em forma de poesia, mas nem por isso deixou de revelar um outro problema muito comum entre os pacientes: a dificuldade de achar o remédio certo e depois a dose adequada. “ Nenhuma medicação é 100% efetiva”, revela o psiquiatra. Tem ainda os efeitos colaterais, que são inerentes aos psicotrópicos. Muito comum entre os pacientes, um deles é o achatamento das emoções, apontado pelo padre em seu depoimento. Quando isso acontece, há casos de pacientes que diminuem por conta própria a dose para tentar o equilíbrio entre sentimentos mais vívidos e controle da angústia. “Isso não dá certo. Se o efeito colateral atrapalha o bem-estar, o paciente deve pedir para trocar a medicação”.
Mas os estudos apontam que quanto maior o número de trocas de medicamentos, menor é a chance de cura. Os especialistas também costumam associar drogas diferentes, mas há casos de depressão refratária –que não reponde a nenhuma medicação. Daí, é necessário partir para tratamentos não farmacológicos, como a eletroconvulsoterapia, que consiste em sessões de choques controlados na cabeça, sob anestesia. Além disso, há necessidade de mudança no estilo de vida, com aumento de atividades físicas, dieta alimentar e terapia.
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