O terremoto de magnitude 7,7 que atingiu Mianmar na semana passada já matou mais de 2.700 pessoas e deixou outras milhares feridas, enquanto grupos de ajuda humanitária nas áreas mais afetadas do país alertam que há uma necessidade urgente de abrigo.
O líder militar de Mianmar, Min Aung Hlaing, disse em um discurso televisionado na terça-feira que o número de vítimas deve aumentar para mais de 3 mil. Estimativas do Serviço Geológico dos Estados Unidos, que monitora a atividade sísmica, sugerem, porém, que o número de mortos pode ultrapassar os 10 mil à medida que os escombros são removidos.
O abalo sísmico da última sexta-feira e foi o mais forte a atingir o país do Sudeste Asiático em mais de um século, derrubando diversos edifícios.
As Nações Unidas afirmaram que as operações de resgate enfrentaram “obstáculos significativos, incluindo estradas danificadas, pontes desabadas, comunicações instáveis e as complexidades relacionadas ao conflito civil”.
Em Mandalay, a segunda maior cidade do país e um dos locais mais afetados pelo terremoto, 50 crianças e dois professores morreram quando uma escola desabou, informou o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.
Sobreviventes desamparados
O Comitê Internacional de Resgate (IRC) disse que abrigo, comida, água e ajuda médica eram necessários em diversas áreas do país.
“Depois de terem vivido o terror do terremoto, as pessoas agora temem tremores secundários e estão dormindo ao relento, nas estradas ou em campos abertos”, disse um funcionário do IRC.
O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitário também alertou em um relatório que, nas áreas mais afetadas, “as comunidades lutam para atender às suas necessidades básicas, como acesso à água limpa e saneamento, enquanto as equipes de emergência trabalham incansavelmente para localizar sobreviventes e fornecer ajuda vital”.
Sistema de saúde sobrecarregado
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ao menos três hospitais foram destruídos e 22 foram parcialmente danificados, sobrecarregando o sistema de saúde do país.
“A devastação do terremoto sobrecarregou as instalações de saúde nas áreas afetadas, que estão lutando para administrar o fluxo de indivíduos feridos. Há uma necessidade urgente de cuidados cirúrgicos e de trauma, suprimentos para transfusão de sangue, anestésicos, medicamentos essenciais e suporte à saúde mental”, acrescentou a agência de saúde das Nações Unidas.
Centenas de pacientes que estavam sendo tratados no hospital de Mandalay precisaram deixar o centro de saúde após o abalo sísmico e estão sendo tratados do lado de fora.
Ajuda internacional
Mianmar é comandado por militares desde 2021 e passa por uma guerra civil.
Após um raro pedido da junta militar do país por ajuda internacional, China, Rússia e Índia enviam equipes de resgate e suprimentos para o país. No entanto, os Estados Unidos, tradicionalmente um dos maiores doadores de ajuda humanitária, permaneceram praticamente ausentes da resposta emergencial devido ao drástico corte de recursos e funcionários na Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USaid) sob a gestão do presidente Donald Trump.
Equipes chinesas de busca e salvamento, que trabalham com cães treinados para farejar pessoas presas sob escombros, já estão no solo em Mandalay. Enquanto isso, uma equipe de avaliação da USaid só deve chegar ao país na quarta-feira, segundo fontes ligadas à operação.
A junta militar que comanda Mianmar, porém, tem sido acusada de bloquear a entrega de suprimentos, enquanto agências internacionais pedem “acesso irrestrito” à ajuda humanitária na nação devastada pelo conflito. Dois médicos da Austrália que ajudam a coordenar a resposta de emergência no epicentro em Mandalay e Sagaing afirmaram que a junta confiscou as entregas.
“Alguns dos suprimentos de ajuda, a maioria deles, não foram dados às pessoas que precisam. Em algumas áreas em Mandalay, a ajuda não chegou. A ajuda foi confiscada pela junta militar”, disse a médica Nang Win.
Uma colega médica na cidade, ela disse, assinou a papelada para receber US$ 1.000 em assistência, mas recebeu apenas cerca de US$ 100, alegando que os suprimentos desviados provavelmente acabaram no mercado negro.
“A população acaba tendo que comprar os seus próprios suprimentos”, disse Win.