Alvo de um inquérito que investiga suposta omissão de autoridades no caso de racismo praticado no início do mês contra dois jogadores do Palmeiras, o governo federal enviou ao Ministério Público Federal (MPF) do Rio um ofício com as providências que já foram adotadas e que ainda pretende adotar para combater à discriminação racial no futebol.
Dentre as medidas, os ministros André Fufuca (Esportes) e Anielle Franco (Igualdade Racial) informaram que as pastas firmaram acordos de cooperação, sugeriram mudanças na legislação e anunciaram que pretendem promover discussões sobre o assunto com os jogadores Vinicius Jr e Luiz Henrique, que recentemente também sofreram ataques racistas.
O inquérito foi aberto pelo MPF no dia 19 de março, motivado por uma representação de uma entidade ligada à causa racial. A procuradoria sustenta que é preciso apurar a atuação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e da União nas respostas ao episódio contra os atletas do Palmeiras, apontadas pelo MPF como insuficientes.
No despacho que oficializou o início da apuração, os procuradores citam “ações meramente superficiais e pouco concretas” que se refletem apenas em notas oficiais, postagens em redes sociais em datas comemorativas e uso de faixas com mensagens na entrada em campo.
No documento encaminhado ao MPF, os ministérios comunicaram que o governo vai incentivar o uso de tecnologias de reconhecimento racial e biométrico no acesso dos torcedores nos estádios e tem trabalhado para a implementação de “ações de conscientização, formação e monitoramento da discriminação racial no ambiente esportivo”.
Citaram que a União enviou representantes para o Paraguai para uma reunião com o presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). O encontro resultou na criação de um grupo de trabalho para desenvolver estratégias para erradicar o racismo no esporte.
O Ministério do Esporte ressaltou ainda ter apresentado à Casa Civil uma proposta de alteração da Lei Geral do Esporte. A mudança prevê a criação de condicionantes para que entidades esportivas, como a CBF, tenham acesso a recursos federais. O governo também se comprometeu a realizar novas campanhas publicitárias.
Procurados por VEJA, Fufuca e Anielle negaram omissão no combate ao racismo. “O ministério seguirá atuando intensamente para fazer com que a agenda pela igualdade racial seja compreendida como missão do governo”, destacou a ministra da Igualdade Racial. “Entendo que devemos dar exemplo e assumir protagonismo. Não basta apenas condenar os atos racistas, é fundamental agir com firmeza e promover mudanças concretas”, reconhece o ministro do Esporte.
O Ministério Público ainda não está convencido. “Vamos manter o inquérito. A partir do que foi discutido, iremos abrir uma consulta pública para que a sociedade traga outras propostas, dado que reconhecemos a insuficiência das medidas colocadas em prática até agora”, afirmou o procurador Júlio José Araújo Junior, que conduz a investigação.