Ícone da dramaturgia brasileira, o ator Ney Latorraca morreu nesta quinta-feira, 26, aos 80 anos, em decorrência das complicações de um câncer de próstata. Ao longo de seus mais de 50 anos de profissão, Latorraca acumulou papéis marcantes na TV e no teatro — dentre eles, o vilão Leandro Serrano, de Coração Alado, folhetim que foi ao ar na Globo entre 1980 e 1981. O personagem é lembrado por protagonizar a primeira cena de estupro em uma novela das 8 da emissora, trama que chocou a audiência.
Na cena em questão, Leandro se aproveita da ausência da esposa — que viajara — para atacar sua cunhada, Vivian (Vera Fischer). Ela engravidou após o crime e o público não sabia se o filho era de Leandro ou de Juca (Tarcísio Meira), namorado da mocinha. Na época, Latorraca ainda polemizou ao afirmar que não via seu personagem como uma pessoa somente má. “Acho que se Leandro for encarado apenas como um mau-caráter, a história perde muito de sua graça. Ele tem altos e baixos e está me gratificando demais exatamente por ser tão humano, igual a milhares de pessoas que andam impunemente pelas ruas. Foi um momento de fraqueza. E qual o homem que não se sentiria atraído por uma cunhada como a Vera Fischer?”, declarou ao jornal O Globo numa reportagem que sucedeu à exibição da cena.
Na mesma reportagem, a autora da novela, Janete Clair, revelou que o momento foi inspirado na história real de uma telespectadora. “Recebi uma carta de uma moça simples, que foi atacada sexualmente pelo cunhado. O que ela me contou era fantástico, tão triste, que resolvi aproveitar na novela. Guardo essa carta comigo até hoje”, disse.
Quem foi Ney Latorraca?
Rosto incontornável da dramaturgia brasileira, Latorraca nasceu em Santos, no litoral paulista, em 26 de julho de 1944. Seus pais eram artistas musicais: o pai cantava como crooner em bares, e a mãe atuava num coral. Em 1964, na virada dos 20 anos, ele fez sua estreia numa montagem teatral escolar da peça Pluft, o Fantasminha. A montagem fez sucesso além dos muros colegiais, mas pouco depois Latorraca sofreu uma decepção que quase o fez desistir da carreira. Produção do Teatro Arena com direção do “maldito” Plínio Marcos, o espetáculo Reportagem de um Tempo Mau nem chegou a estrear, alvo da censura da ditadura militar em sua fase mais feroz. “Fiquei completamente arrasado, queria me matar. Voltei para Santos”, declarou ele mais tarde.
Latorraca, no entanto, logo deu a volta por cima — e, exibindo sempre grande talento e carisma, viveu uma ascensão irresistível nos anos seguintes. Graças, em especial, à sua chegada às novelas. Ele começou a atuar na extinta TV Tupi e estreou na Globo em 1975, na mítica Escalada de Lauro César Muniz, ao lado de Susana Vieira e Tarcísio Meira. Depois disso, viria a consagração com Estúpido Cupido, de 1976 — na qual marcou época como um divertido fã de Elvis Presley. Dentre diversos folhetins, destacou-se em Coração Alado (1980), ao lado de Vera Fischer, e especialmente na cultuada Vamp (1991), como o inesquecível vampiro Vlad.
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