A disputa pelo comando do Partido dos Trabalhadores, que renova seus quadros no próximo mês de julho, tem sacudido grupos opostos da legenda. A edição de VEJA desta semana mostra como a ala de Gleisi Hoffmann, ex-presidente da sigla, tem feito campanha aberta contra a indicação de Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara e nome apoiado pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para além da disputa óbvia por espaços de poder no controle de uma das maiores legendas do país, há um bom número de petistas que vê no racha uma disputa por dinheiro — o que enseja, claro, mais capital político a ser acumulado.
Um dos pontos centrais da disputa é quem vai assumir a tesouraria do partido, que só em 2024 recebeu 629 milhões de reais do Fundo Eleitoral, o segundo maior entre todas as legendas, atrás apenas do PL de Jair Bolsonaro.
Os recursos volumosos deverão ser especialmente cobiçados a partir deste ano com vistas à disputa eleitoral de 2026: detentor da “chave do cofre”, o tesoureiro é tido, em ano de eleição, como tão importante quanto o presidente da sigla. Cabe aos tesoureiros dos partidos a função de ordenar a distribuição dos fundos públicos e prestar contas à Justiça sobre os gastos.
Edinho já anunciou publicamente que pretende trocar a atual tesoureira — algo que é prerrogativa de um dirigente que assume o mandato —, mas o movimento desagradou a atual titular, Gleide Andrade. Aliada de Gleisi, ela foi uma das participantes mais vocais contra o ex-prefeito em reunião feita com Lula na quinta-feira passada, em Brasília, na qual um grupo da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil fez duras críticas à possibilidade de Edinho Silva ser o futuro presidente da sigla.
Pouco conhecida fora da legenda, mas influente na burocracia petista, Gleide quer ser candidata a deputada federal por Minas Gerais em 2026 e perder o cargo há pouco tempo do pleito pode diminuir consideravelmente seu calibre para a disputa.
Defesa
Em entrevista a VEJA, o presidente interino do PT, Humberto Costa (PE), criticou o movimento que, segundo ele, tem sido feito para desqualificar Gleide à frente das finanças do partido. “Essa história de que a Gleide está querendo continuar no cargo, que não aceita sair, isso é inclusive maldoso. Porque ela é uma pessoa da nossa corrente. O que a corrente definir, ela vai aceitar”, diz.
Costa rechaça afirmações feitas de que não há transparência nas decisões do partido. “O orçamento é elaborado com a participação de toda a direção, é previamente apresentado à direção nacional, é votado. A execução é pública, os recursos do partido, a sua aplicação, tudo é auditado pelo Tribunal Superior Eleitoral”, afirma o dirigente.
Ele reafirma, ainda, que a decisão de quanto o PT vai investir em candidaturas com Fundo Eleitoral é tomada também pela direção do partido. “O partido tem diversificadas formas de fiscalização”, diz.
Histórico
Petistas próximos à dupla Gleisi e Gleide são categóricos ao defender a gestão da tesoureira no partido. “Não é questão de passar pano, mas é só olhar o histórico de tesoureiros do partido. Gleide nunca foi presa”, alfineta um correligionário.
Vale lembrar o histórico de antecessores da titular. Delúbio Soares, João Vaccari e Paulo Ferreira foram investigados e chegaram a ser presos em investigações relativas ao Mensalão e à Lava-Jato.