A temporada de Fórmula 1 estreou de maneira conturbada: dos 20 pilotos do grid no GP da Austrália, seis não terminaram a prova. Entre eles, Gabriel Bortoleto que bateu faltando dez voltas para o fim. É bem verdade que o brasileiro opera milagres na Sauber, e continua como uma esperança para o país depois de anos em busca do próximo representante nacional na categoria. A grande questão, no entanto, ressurge: por que a terra de Senna, Piquet e Fittipaldi não é campeã desde 1991?
Rubens Barrichello e Felipe Massa chegaram perto com os vice-campeonatos nos anos 2000, mas viram escapar o título. Rubinho é lembrado como o segundo piloto da sequência de títulos de Schumacher entre 2000 e 2004. Massa foi campeão da F1 por 38 segundos, em Interlagos em 2008. O tema da vitória já tocava quando Lewis Hamilton ultrapassou Timo Glock para chegar no quinto lugar que garantia o seu título. Rubens ainda traria a última vitória brasileira na categoria, ao ganhar o GP de Monza no ano seguinte, uma memória distante que completa 16 anos.
Na última década, Felipe Massa seguiu representando o Brasil na Fórmula 1, até sua aposentadoria em 2017. Bruno Senna, sobrinho de Ayrton, disputou as temporadas de 2010 a 2012, mas não atingiu a qualidade do tio. Felipe Nasr teve uma estreia promissora com um quinto lugar em sua primeira corrida em 2015, mas saiu da F1 um ano depois pelo mau desempenho da equipe Sauber. Em 2020, Pietro Fittipaldi deu um gostinho do verde amarelo na pista, ao sair da reserva da Haas e substituir Grosjean em duas corridas, depois do suíço ter se acidentado, mas passou longe do pódio. O neto do campeão mundial Emerson Fittipaldi segue associado a Haas, sem ser cogitado como titular.
Outro brasileiro com potencial de entrar na F1 é Felipe Drugovich. Vencedor da F2 em 2022, o piloto é reserva da Aston Martin desde sua conquista na categoria de entrada para o grid mais disputado do automobilismo. O nome do brasileiro é especulado para um dos assentos titulares da Cadillac, equipe recém oficializada como 11º equipe para 2026 na Fórmula 1.

Empecilhos no Brasil
A principal porta de entrada para o automobilismo é o kart. Seguindo o caminho tradicional, o próximo passo é ingressar nas categorias de base da Fórmula 1. Montadoras de carro promoviam as competições no país. Felipe Massa ingressou na Fórmula Chevrolet antes de ir para a Europa. Nos últimos anos, entretanto, as marcas optaram por migrar para outras modalidades de automobilismo. Somado à falta de oportunidades, dinheiro e patrocínios também são fatores decisivos para a manutenção da carreira de um piloto. A Europa é o principal destino para alcançar a F1, mas para o bolso brasileiro é o mais caro.
Então, após o kart existia um vácuo no caminho dos brasileiros que sonhavam com o automobilismo mais prestigiado. Para suprir essa necessidade, em 2022, foi anunciada a Fórmula 4 Brasil, com licença da Confederação Brasileira de Automobilismo e certificado da FIA (Federação Internacional de Automobilismo). Os modelos da categoria são os mesmos dos campeonatos de F4 na Itália, Inglaterra, Alemanha, Espanha, Emirados Árabes Unidos e Índia. Com jovens a partir dos 15 anos atuando como pilotos, a esperança é que a competição sirva de incentivo e caminho para mais brasileiros na F1.
Bortoleto tem chances de ganhar?
Na sinceridade, não. A realidade é dura para o brasileiro que entrou na pior equipe do grid no ano passado. A Sauber marcou apenas quatro pontos na última temporada. Nico Hulkenberg, companheiro de Bortoleto neste ano, já marcou seis na primeira corrida caótica do ano, em que o brasileiro bateu faltando dez voltas, e outros cinco pilotos também não completaram. As chances de Gabriel podem surgir nesses momentos de caos e imprevisibilidade.
A esperança do Brasil está na perseverança do piloto e nas mudanças do ano que vem. Mesmo na Sauber, Bortoleto se classificou em 15º para o GP da Austrália, feito com que o próprio se surpreendeu. Em 2026, a equipe suíça se tornará Audi, depois de ser comprada pela empresa alemã, e pode trazer mudanças positivas em um ano de completa renovação nos carros da F1.

O paulistano de 20 anos passou por competições de kart no Brasil e na Europa. Em 2020, ingressou na Fórmula 4 italiana, e em 2023 consagrou-se campeão da F3 em sua estreia na categoria. O título se repetiu na F2 no ano seguinte, lançando o prodígio à Fórmula 1.