Foi publicada nesta terça-feira, 18, no jornal italiano Corriere della Sera, uma carta do papa Francisco enviada ao diretor de redação, Luciano Fontana. Escrita em 14 de março do hospital público Gemelli, onde está internado há 33 dias em quadro complexo, mas estável, a mensagem expressa gratidão pelo trabalho dos jornalistas e faz um forte apelo à paz e ao uso responsável das palavras.
A publicação da carta acontece em um momento de grande tensão global. Nesta terça-feira, Israel retomou os bombardeios na Faixa de Gaza após quase dois meses de cessar-fogo, resultando em centenas de mortes e feridos. O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, justificou a ofensiva como uma resposta à recusa do Hamas em libertar reféns e aceitar um novo acordo de trégua. Além disso, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, têm um telefonema agendado para discutir um possível cessar-fogo na Ucrânia.
Diante desse cenário de conflitos e incertezas, as palavras do Santo Padre ganham ainda mais relevância, especialmente ao elogiar o trabalho dos jornalistas. Ele reconhece a importância de seu papel na construção da verdade e no impacto que suas palavras têm no mundo. Em sua carta, ele diz: “Gostaria de encorajar você e todos aqueles que dedicam trabalho e inteligência para informar, através de instrumentos de comunicação que agora unem nosso mundo em tempo real: sintam toda a importância das palavras. Elas nunca são apenas palavras: são fatos que constroem os ambientes humanos. Podem conectar ou dividir, servir à verdade ou servir-se dela. Devemos desarmar as palavras, para desarmar as mentes e desarmar a Terra. Há uma grande necessidade de reflexão, de serenidade, de senso de complexidade”.
Além disso, o papa Francisco ressalta que a fragilidade humana nos torna mais lúcidos sobre o que realmente importa e alerta para a necessidade de “desarmar as palavras” para que seja possível “desarmar as mentes” e, consequentemente, a própria Terra. Ele também destaca a importância da diplomacia e das organizações internacionais na busca por soluções pacíficas, enfatizando que essas instituições precisam de novo vigor e credibilidade.
Leia a íntegra do texto:
Caro Diretor,
Desejo agradecê-lo pelas palavras de proximidade com as quais você se fez presente neste momento de doença no qual, como já tive oportunidade de dizer, a guerra parece ainda mais absurda. A fragilidade humana, de fato, tem o poder de nos tornar mais lúcidos em relação ao que é duradouro e ao que é passageiro, ao que dá vida e ao que mata. Talvez por isso tendemos com tanta frequência a negar os limites e a evitar as pessoas frágeis e feridas: elas têm o poder de questionar a direção que escolhemos, como indivíduos e como comunidade.
Gostaria de encorajar você e todos aqueles que dedicam trabalho e inteligência para informar, através de instrumentos de comunicação que agora unem nosso mundo em tempo real: sintam toda a importância das palavras. Elas nunca são apenas palavras: são fatos que constroem os ambientes humanos. Podem conectar ou dividir, servir à verdade ou servir-se dela. Devemos desarmar as palavras, para desarmar as mentes e desarmar a Terra. Há uma grande necessidade de reflexão, de serenidade, de senso de complexidade.
Enquanto a guerra não faz nada além de devastar as comunidades e o meio ambiente, sem oferecer soluções para os conflitos, a diplomacia e as organizações internacionais precisam de novo vigor e credibilidade. As religiões, além disso, podem recorrer às espiritualidades dos povos para reacender o desejo de fraternidade e justiça, a esperança da paz.
Tudo isso exige empenho, trabalho, silêncio, palavras. Sintamo-nos unidos neste esforço, que a Graça celeste não deixará de inspirar e acompanhar.
Francesco
Roma, Policlínico Gemelli, 14 de março de 2025