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“Espumante daqui é o Brasil engarrafado”, diz premiado enólogo

Há alguns anos têm sido assim: o enólogo uruguaio Alejandro Cardozo é sempre o grande vencedor do Guia Descorchados, publicação que avalia e pontua os melhores vinhos da América do Sul. Às vésperas do lançamento da edição 2025, que será em 1º de abril, ele já comemora os resultados: “Ganhamos dois dos três melhores tintos, este ano só faltou o rosé e o espumante”, contou Cardoso à coluna AL VINO. Não é nenhum exagero: ele levou também o prêmio de melhor branco do ano, elaborado por ele na vinícola Otto.

Aos 55 anos, duas décadas deles no Brasil e 35 trabalhando com vinho, ele já foi eleito melhor enólogo do ano pelo mesmo guia, pela revista Adega e pela Associação Brasileira de Enologia (ABE), além de ter a alcunha de “mago dos espumantes”, bebida pela qual tem especial apreço. Talvez porque quem o ensinou fazê-los foi outro grande mestre, o português Osvaldo Amado, responsável pelo pontuadíssimo Raríssimo, da Bairrada (PT).

Aqui no Brasil, Cardozo presta consultoria para mais de vinte vinícolas. É também proprietário da EBV (Empresa Brasileira de Vinificações), além de sócio da Estrelas do Brasil, onde atende marcas como a Guatambu, que já teve seu espumante Nature eleito o “Melhor da Campanha Gaúcha”.

Não espere deste senhor medalhado uma postura enoarrogante. Alejandro é gentil, divertido e leve como seus vinhos. Inclusive, o frescor e leveza são marcas registradas de seu trabalho. Pergunto a ele como convenceu alguns donos de vinícolas a abrir mão de vinhos super potentes, concentrados e cheio de madeira, que continuam sendo preferência da turma que ainda segue a cartilha dos anos 1990 do crítico americano Robert Parker.

“Eu faço o que me pedem, sou um prestador de serviço, mas quando os vinhos não performam bem em concursos ou guias, eles ficam p… comigo e procuram outro profissional”, conta, divertindo-se. “Um perfil de vinho não exclui o outro, eu tomaria uma taça deste tão encorpado e amadeirado, mas apenas uma. Enquanto isso, os vinhos mais atuais, nos quais a fruta é protagonista, com mais frescor e acidez, nos acompanham durante todo um jantar e é o primeiro que a garrafa acaba”, garante.

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Durante sua passagem por São Paulo, no evento que apresentou novos vinhos da vinícola Sacramento, da Serra da Canastra (MG), degustamos o Syrah Sabina 2024, Seleção de Parcelas (R$ 250), que recebeu 93 pontos do Guia Descorchados e o título de Melhor Tinto do Brasil. Graças à alquimia de Cardozo, que fez cerca de 10 vinificações para chegar aquele resultado, a vinícola mineira leva pelo terceiro ano o título de melhor vinho do Brasil. Sem dúvida um grande vinho, elegante, corpulento, sem perder o frescor.

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O Syrah Sabina 2024, da Sacramentos: melhor vinho tinto do Brasil segundo a nova edição do Guia DescorchadosReprodução/VEJA

Mas, aqui para esta colunista, o tinto Rosso Far Niente 2024 (R$ 150), um blend de duas fermentações e estágio em foldres (grandes recipientes de madeira), ganhou meu paladar pela delicadeza e fruta, além do título de Melhor do Sudeste, do guia de Patricio Tapia, jornalista chileno que há mais de 20 anos é degustador na inglesa Decanter, e o idealizador do Descorchados.

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Uma pergunta surge no salão: o mercado brasileiro vai ter sofisticação para este vinho? Ele responde: “Agora vai ter opção”. Não é exagero dizer que o salto qualitativo da indústria de vinhos no Brasil nos últimos anos tem os dedos, nariz e as mãos de Alejandro Cardozo. Uma figura que continua degustando vinhos em pé e fazendo anotações em um caderninho, mesmo que depois nem ele entenda a própria letra. A seguir o enólogo antítese dos enochatos dá recomendações práticas para quem ainda precisa de um empurrão para aproveitar o vinho nacional.

Para quem quer provar esses vinhos mais atuais, mais frescos, qual região recomenda?

A Serra Gaúcha e a Catarinense têm feito coisas belíssimas. Se prefere algo com mais corpo, prove o Pinot Noir de Campos de Cima da Serra (RS). Para mais potentes, no Sudeste (São Paulo, Minas e Goias) há ótimos Cabernet Franc e Syrah, dignos de serem conhecidos. Para turma dos brancos aromáticos, os Sauvignon Blanc do Sudeste têm ótimos representantes.

Qual a principal característica do espumante nacional?

Ele é o Brasil engarrafado, é alegre, divertido, saboroso, cremoso, usa boa tecnologia, tem ótimo equilíbrio entre doçura e acidez. Não é o melhor do mundo, mas já é referência e cada vez mais tem provado que tem lugar ao sol. Provem espumantes de qualquer região do Brasil, é preciso ser muito azarado para comprar algo ruim atualmente.

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Quais espumantes você recomenda para uma boa adega?

Tenha Prosecco brasileiro, também os Brut feitos pelo método Chamat não têm erro e os rosé da uva Moscatel vão te divertir muito, fora que estão na moda porque possuem baixo teor alcóolico e doçura muito equilibrada. Tenho certeza que você irá se divertir.

Qual o sinônimo da fatídica harmonização de Malbec com sushi para espumante?

O espumante tem a capacidade de acompanhar praticamente tudo, o preconceito é nosso. No churrasco, por exemplo, não vou de tinto, vou de espumante. Os gaúchos podem querem me colocar na camisa de força, mas lá em casa só branco e espumante com o churrasco. E quer mais? Feijoada com espumante é sensacional. Se tiver oportunidade de provar com um do método clássico, 24 meses de contato com as borras, aí sim verá que experiência deliciosa. São maravilhosos!

 

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