Os riscos geopolíticos dispararam no radar das empresas de mineração neste ano, refletindo as turbulências internacionais em diversas regiões do globo. A constatação é da pesquisa “Top 10 business risks and opportunities for mining and metals”. Trata-se de um estudo realizado anualmente pela consultoria EY com executivos da cúpula das principais mineradoras do mundo. Na edição de 2025, publicada nesta quinta-feira 13, os riscos geopolíticos surgem em terceiro lugar, o que corresponde a um salto de quatro posições em relação à pesquisa de 2024.
“Mais governos estão priorizando a autossuficiência em setores estratégicos, como a mineração, para reforçar a segurança nacional”, afirma o estudo da EY. Entre os exemplos citados pela consultoria, estão a decisão do Japão de subsidiar mais da metade dos custos de produção de minerais críticos, e o anúncio da Arábia Saudita de destinar 182 milhões de dólares a incentivos à mineração.
“O abastecimento mundial de minerais e metais estratégicos é altamente concentrada, criando complexidade geopolítica e enfatizando a importância das cadeias de fornecimento transparentes”, afirma a EY. A transparência é ainda mais necessária, diante do ressurgimento de um viés nacionalista em diversos países, como o movimento “Make America Great Again” promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que voltou à Casa Branca no último dia 20 de janeiro. Duas consequências do nacionalismo são a imposição de sobretaxas e o recrudescimento da guerra comercial entre diversos países.
O aumento de tarifas de importação não é a única ferramenta à disposição, já que os governos podem recorrer a mudanças na legislação para limitar ou acelerar as atividades de mineradoras estrangeiras, seja em seu próprio território, seja impondo restrições não-tarifárias às importações. “Nos próximos doze meses, as políticas e regulamentações dos novos governantes provavelmente vão acelerar as incertezas geopolíticas”, diz o estudo.
Na outra ponta, as preocupações e oportunidades geradas pela inovação apresentaram a maior queda em 2025, na comparação com a edição do ano passado. Esse tópico desceu cinco posições no ranking, ocupando agora a última posição entre os dez maiores riscos e oportunidades do setor de mineração.
Isso não significa, necessariamente, que as empresas investirão menos em inovação nos próximos doze meses. A EY explica que 54% das empresas consultadas pretendem realizar grandes investimentos nessa área, sendo que 15% dos participantes informaram que a verba para inovação será, pelo menos, 20% maior que a de 2024. “Mas muito do foco permanece sobre áreas de baixo risco”, diz a pesquisa, que cita que 45% dos executivos ouvidos disseram que os esforços de inovação serão concentrados em melhorias de processo e em fontes alternativas de energia.
No Brasil, as mineradoras priorizaram outros riscos e oportunidades. No topo da lista das brasileiras, está a preocupação com aumentos de custos e de produtividade. Na pesquisa global, esse item aparece em sexto lugar. Segundo a EY, a disparada do dólar no ano passado, que acumulou uma alta de 27% frente ao real, e a inflação em alta pesam sobre os custos da companhias locais. Com isso, obter ganhos de produtividade é questão de sobrevivência. “A cada tonelada de minério retirada da terra, a próxima tonelada extraída será mais cara, mais funda e com a necessidade de mais processamento”, afirma Afonso Sartorio, líder de Energia e Recursos Naturais da EY Brasil.
A questão fica ainda mais difícil, diante da redução dos teores de minério nas minas em atividade. Assim, para manter a produção, os custos de extração sobem. Não é por acaso, portanto, que a segunda maior preocupação das empresas brasileiras é o esgotamento das reservas. No ranking global, a maior preocupação das mineradoras em 2025 é a gestão de capital. A gestão ambiental vem em segundo lugar, e o esgotamento de jazidas, em quarto. Apesar da alta dos juros promovida pelo Banco Central, os custos de capital ocupam apenas a sexta posição na lista de preocupações e riscos das empresas brasileiras. Em parte, isso é explicado pelo fato de as grandes mineradoras nacionais terem acesso ao mercado internacional de capitais, podendo captar recursos mais baratos que os disponíveis por aqui.
A pesquisa da EY ouviu 353 executivos de grandes mineradoras em todo o mundo, com faturamento anual acima de 1 bilhão de dólares. Presidentes, vice-presidentes e diretores-executivos representaram 35% da mostra.