Mais de sete meses depois de uma operação relâmpago em que cerca de mil soldados ucranianos cruzaram a fronteira com a Rússia, invadindo e ocupando um pedaço do território vizinho próxima à divisa, Kiev se encontra numa posição frágil. Blogueiros militares de ambos os lados da guerra informaram nesta quarta-feira, 12, que forças da Ucrânia estão batendo em retirada da região de Kursk, conquistada a duras penas e que se esperava figurar como moeda de troca em possíveis negociações de paz com Moscou.
A Ucrânia chocou não só a Rússia, mas o mundo em 6 de agosto do ano passado ao penetrar em território inimigo e tomar uma área de mais de mil quilômetros quadrados. Mas sua posição vem sido contestada por avanços russos, e piorou drasticamente na semana passada.
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Controle de aldeias
O Ministério da Defesa da Rússia relatou na quarta-feira a recaptura de mais cinco aldeias em Kursk, e o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que “a dinâmica é boa”. Um vídeo publicado por blogueiros militares russos e pela mídia estatal, verificado pela agência de notícias Reuters, mostrou soldados com uma bandeira russa em uma praça no centro de Sudzha, uma cidade perto da fronteira por onde passa uma rodovia usada pelos ucranianos como rota de suprimento.
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Valerii Zaluzhnyi, chefe das Forças Armadas da Ucrânia, negou nesta semana que seus militares estivessem cercados, mas informou que assumiram melhores posições defensivas.
Mas o Deep State, um site confiável ucraniano que mapeia as linhas de frente da guerra, atualizou seu mapa do campo de batalha para mostrar que as forças ucranianas não têm mais o controle de Sudzha. No entanto, reiterou que combates persistem nos arredores.
Possível retirada
Enquanto isso, Skadovskyi Defender, um blogueiro militar ucraniano, escreveu em seu canal no aplicativo de mensagens Telegram que o Exército ucraniano “está deixando Kursk”. “Não haverá nenhum soldado ucraniano lá até sexta-feira”, afirmou, embora também tenha dito que Kiev continua a conduzir ataques pesados em Sudzha. O governador de Kursk, o russo Alexander Khinshtein, declarou nesta quarta-feira que quatro civis, funcionários de uma fábrica de ração, foram mortos a nordeste da cidade.
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Em entrevista ao canal independente russo Dozhd TV, o analista militar e ativista da oposição russa Ruslan Leviev disse que a incursão ucraniana estava chegando ao fim.
“Talvez essa história acabe hoje. Talvez eles tentem manter as aldeias da fronteira por mais alguns dias. Mas, no geral, a história da cabeça de ponte de Kursk está chegando ao fim, e as tropas ucranianas estão saindo”, disse ele.
A Ucrânia concordou, na terça-feira, com uma proposta dos Estados Unidos para um cessar-fogo de 30 dias na guerra, que se arrasta há mais de três anos. O Kremlin disse que precisava ser informado por Washington antes de comentar se os termos da trégua eram aceitáveis.