O Exército de Israel convocou reservistas nesta quarta-feira, 12, em preparação para uma possível retomada da guerra em Gaza. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ameaçou cancelar o cessar-fogo no enclave se o Hamas não entregar uma nova leva de reféns até o meio-dia deste sábado, depois do grupo terrorista palestino anunciar um adiamento da libertação de cativos ao acusar Tel Aviv de violar os termos da trégua.
Sob o acordo de cessar-fogo, em vigor desde 19 de janeiro, o grupo palestino concordou em soltar mais três reféns no sábado. Até agora, no primeiro dos três estágios da trégua, 16 reféns israelenses de um grupo inicial de 33 crianças, mulheres e homens mais velhos foram trocados por centenas de palestinos que estavam detidos em prisões israelenses. Além disso, o Hamas devolveu cinco tailandeses em uma libertação não programada.
No total, 17 israelenses ainda deveriam ser libertados na primeira fase da trégua. Segundo Tel Aviv, oito deles estão mortos.
Ameaça de conflito
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reiterou o prazo de Netanyahu, afirmando que caso o Hamas não respeite a condição, ele “deixaria o inferno se soltar” em Gaza e disse que “tudo ficaria em aberto”. O premiê israelense ordenou que os militares reunissem forças ao redor do enclave palestino, e as Forças de Defesa de Israel (IDF) anunciaram logo depois que destacariam forças adicionais no sul do país, incluindo a mobilização de reservistas.
Autoridades israelenses endossaram a ameaça de Trump de “cancelar” o cessar-fogo, a menos que os reféns israelenses restantes sejam libertados no sábado. Netanyahu não especificou quantos cativos devem ser soltos. O Hamas reiterou o compromisso com o acordo na terça-feira, mas não concordou com o prazo e disse que responsabilizaria Israel por quaisquer “complicações ou atrasos”.
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Milhares de manifestantes em Israel pediram que governo mantenha vivo o acordo de cessar-fogo, para trazer os reféns restantes de volta para casa.
O impasse ameaça reacender um conflito que devastou a Faixa de Gaza por 15 meses, deslocando internamente a maioria de sua população e provocando uma crise humanitária intensa, com escassez de alimentos, água encanada e abrigo. Uma autoridade palestina próxima às negociações disse à agência de notícias Reuters que os mediadores intensificaram sua intervenção “para evitar que as coisas se transformem em uma crise real”.
Acusações do Hamas
O Hamas anunciou na segunda-feira que decidiu adiar a próxima liberação de reféns, prevista para sábado, culpando Israel por quebrar a trégua que entrou em vigor em 19 de janeiro. Segundo o grupo palestino, as violações incluíam “atrasar o retorno dos (palestinos) deslocados para o norte da Faixa de Gaza e alvejá-los com bombardeios e tiros”.
Na segunda-feira, o escritório de imprensa do governo de Gaza, comandado pelo Hamas, disse que Israel se recusou a permitir a entrada de suprimentos especificados no cessar-fogo. Sob o acordo, 600 caminhões de ajuda — 50 deles transportando combustível — devem ser autorizados a entrar em Gaza todos os dias. Esse número foi atingido ou excedido nos três primeiros dias do cessar-fogo.
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Horas depois, Donald Trump, que reivindicou o crédito por garantir o acordo entre Israel e Hamas, deu um ultimato. Caso todos os reféns israelenses em Gaza não fossem devolvidos até sábado ao meio-dia, ele ameaçou cancelar o cessar-fogo e deixar “o inferno se soltar”.
“A resposta deve ser exatamente como o presidente Trump sugeriu. Parar completamente a ajuda humanitária, cortar a eletricidade, a água e as comunicações e usar força brutal e desproporcional até que os reféns retornem”, afirmou o ministro das comunicações de Israel, Shlomo Karhi, no X (antigo Twitter). “É hora de abrir os portões do inferno para o Hamas — e desta vez, sem nenhuma restrição aos nossos heroicos combatentes”, acrescentou.
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O cessar-fogo entre Israel e o Hamas entrou em vigor em 19 de janeiro, inaugurando a primeira pausa no conflito em mais de 15 meses, sob a previsão de três etapas. Apesar da intensa mediação de países parceiros, a complexidade e a fragilidade do acordo são altas, o que significa que qualquer pequeno incidente pode crescer e ameaçar acabar com o pacto.
As negociações para o início da segunda das três fases do cessar-fogo deveriam começar nesta segunda-feira.
Cerca de 1.200 israelenses morreram e 251 foram sequestrados quando o Hamas atacou o território israelense em 7 de outubro de 2023. Em resposta, Israel começou uma ofensiva em larga escala em Gaza, que matou mais de 47.000 palestinos e deslocou milhões de pessoas.