A mata fechada, a baixa densidade demográfica e a proximidade com a Colômbia, o Peru e a Bolívia – os únicos produtores de cocaína no mundo – faz com que a Amazônia seja uma região atrativa para o crime organizado. O Primeiro Comando Capital (PCC) descobriu o potencial da região para os negócios criminosos há pouco mais de dez anos, quando começou a cooptar integrantes de grupos criminosos locais. Agora, o PCC passa por uma disputa por rotas clandestinas com a Família do Norte, considerada, pela Polícia Federal, a terceira maior facção criminosa do país.
Nesta semana, durante a reunião inaugural do Núcleo Estratégico de Combate ao Crime Organizado, o ministro Ricardo Lewandowski, da Justiça e Segurança Pública, anunciou a criação de um sistema integrado de segurança no âmbito do Plano Amas, criado em 2023 para integrar o combate ao crime nos nove estados da Amazônia Legal. Neste momento, o foco está na elaboração de operações em áreas sensíveis, como rios, para combater crimes que, além de um problema de segurança pública, também prejudicam o meio ambiente. Para isso, o governo investe, com auxílio de recursos do Fundo Amazônia, em inteligência, tecnologia e policiamento.
“São helicópteros, lanchas blindadas, lanchas não blindadas, até jet skis e outras ações até sociais que poderão marcar a presença do Estado naquele local e afastar atividades ilícitas”, explicou o secretário nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo.
Segundo o secretário, além da rota para o tráfico de drogas, armas e pessoas, o garimpo de ouro, a exportação de madeira e até a exploração do trabalho de indígenas criam um “ciclo econômico de ilegalidade”, que opera na região amazônica e favorece, inclusive, a lavagem do dinheiro sujo das facções.
Centro integrados em fronteiras
Para aumentar a segurança no local, o governo prepara a criação de Centros Integrados de Segurança Pública e Proteção Ambiental. O primeiro será em Cruzeiro do Sul, no Acre, próximo à fronteira com o Peru, onde o governo observa as movimentações do recém-inaugurado Porto de Chancay. Com patrocínio do governo da China, o porto é uma oportunidade comercial de abertura do Brasil para o pacífico e para a Ásia, mas também uma nova alternativa para a logística de produtos ilícitos.
Além de Cruzeiro do Sul, no Norte também há o planejamento de expandir os centros integrados para a cidade amazonense de Tabatinga, tríplice fronteira com Colômbia e Peru, e no Amapá, em Oiapoque, na fronteira com a Guiana Francesa. Há projetos também em Cáceres, no Mato Grosso, cidade que faz fronteira com a Bolívia; Dionísio Cerqueira, em Santa Catarina, ao lado da Argentina, e uma revitalização de Foz do Iguaçu, que faz fronteira com o Paraguai e com a Argentina.
![Sarrubbo](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2023/09/Mario-Sarrubbo.jpg)
“A gente está estudando. Claro que isso depende de acordos com governos estaduais, o que a gente está trabalhando, mas a gente tem certeza que esse é um projeto de interesse do Estado”, revelou Sarrubbo.
“Vamos olhar para o tráfico de armas, de pessoas, de drogas, mas a gente vai olhar também para a proteção ambiental”, destaca. “Estamos indo atrás de tecnologia para que a gente possa ter drones que possam efetivamente diminuir os espaços não vigiados das nossas fronteiras”.
Os centros de inteligência devem ser integrados entre a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, polícias estaduais, militares, rodoviárias estaduais e outras agências, como receitas federal e estaduais. Além de interfaces com os países que fazem divisa com o Brasil.