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David Junior: ‘Vivi à mercê da sexualização do corpo negro’

David Junior, 39 anos, tem atraído os holofotes em Mania de Você por interpretar Sirley, motorista de Berta (Eliane Giardini) que traça planos ao lado de sua esposa e cozinheira da casa, Leidi (Thalita Carauta), para conseguir enganar a patroa. Muito trabalhado na malandragem e na sedução, David, que também é produtor do Hora do Black, afirma que se inspira em amigos para enriquecer o personagem, criando uma boa identificação com o público. Em conversa com a coluna GENTE, o ator fala sobre como lida para evitar a sexualização do corpo negro na TV e compartilha como é trabalhar com as diferentes facetas do típico malandro.

Sirley conquistou a todos pela malandragem. Como tem sido a reação do público? É impressionante como a recepção do público é sentida de imediato quando você convive. Outro dia uma moça parou o carro no meio da rua, baixou o vidro e falou “Só estou parada aqui porque a minha mãe é sua fã”. Era uma senhorinha que devia ter seus quase 80, e ela estava toda sorridente, feliz, me dando os parabéns, dizendo que estava gostando do trabalho, apesar dele ser de caráter duvidoso.

Por que a malandragem conquista? Por identificação. Sou um cara de Nova Iguaçu (na Baixada Fluminense) e lá tem muitos Sirleys, não só em Nova Iguaçu, mas também em Duque de Caxias, Belford Roxo, Mesquita… no Brasil como um todo. Todo brasileiro conhece um Sirley, o público em algum momento esbarrou com um Sirley. O público gosta dele, porque ou se identifica ou identifica ele em algum amigo, parente, conhecido, vizinho…

Sirley roubou os holofotes de Nicolas Prattes e Chay Suede? Não sei se mais ou menos, cada personagem tem o seu protagonismo. Faço questão de dar o protagonismo que ele merece, dando atenção à narrativa que a gente traz para enriquecer o personagem. A história fala por si, em algum momento a gente tem uma visibilidade maior, outra menor, faz parte da condução da história,

Como foi trabalhar essa sedução na TV? É gostoso, gosto de ser multifacetado. Ter a oportunidade de fazer um personagem jovial, que tenha sex appeal é prazeroso. Não é só questão de vaidade, mas também de desfrutar outras camadas e possibilidades enquanto ator.

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Como lida com a exposição do corpo? Por muito tempo, fui uma pessoa que viveu à mercê dessa sexualização do corpo negro, porque a sociedade, além de impor, me ensinou a ser assim, a buscar isso. Hoje me vejo de outra forma, mas não escondo meus atributos, não escondo o que sou. Quero apresentar outras qualidades enquanto artista, procuro equilibrar as coisas, para que não fique só estereotipado nesse lugar, só vendendo o homem preso sem camisa, porque isso não é favorável nem a mim pela exposição, nem à sociedade. Tomo cuidado para um equilíbrio da exposição, não fico tirando a camisa à toa, questiono quando tem exposição gratuita, discuto cenas se precisar. Minha arte é constituída de outras coisas.

Sente que foi sexualizado em outros papéis, como Liberdade, Liberdade?  Liberdade, Liberdade foi uma novela das onze, numa época em que a gente tinha outra narrativa dramatúrgica. Ela trouxe temas importantes, como a sexualização do corpo preto, não só através do ponto de vista da mulher negra, que geralmente é a que é mais sexualizada nessas dramaturgias, mas de como o corpo negro também foi usado e abusado sexualmente por corpos brancos. Isso abriu um campo para que a gente pudesse discutir essas narrativas, sobretudo como esses corpos ainda são abusados pela opressão, pelo poder. Essas discussões são importantes por isso, para entender que socialmente a gente precisa olhar para isso..

Quando decidiu seguir como ator? Sempre fui apaixonado por arte, mergulhado no meio musical, cresci em igreja evangélica, tive uma referência musical desde cedo, tenho muitos parentes músicos. Em algum momento da vida, uma amiga minha me indicou para modelar, falou que devia ser modelo porque sou alto e aí fui da moda para a publicidade, tropecei e caí numa peça, da peça fui indicado para fazer um curso e do curso tirei meu DRT… E fui fazendo, vivendo e estou aqui até hoje. 

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Te criticaram quando você seguiu esse caminho? Teve algumas críticas, sim, porque já tinha uma carreira, fui gerente de banco. Quando decidi ser ator, estava como gerente de banco até o momento em que pedi demissão e quis só viver de arte. Isso foi um choque para meus familiares. Mas muita gente me disse que, se era isso que queria, que eu seguisse minha intuição e vontade, e deu certo.

As novelas atualmente pregam por uma maior diversidade, tanto étnica quanto LGBTQIA+. Essa inclusão é verdadeira? Ela é necessária, nem que seja para incomodar, nem que seja para apontar. É claro que hegemonicamente os lugares de poder continuam sendo héteros, cis e brancos, a gente sabe disso, mas o movimento precisa acontecer para que a mudança aconteça. 

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