O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse a parlamentares republicanos que planeja anunciar tarifas recíprocas a partir desta sexta-feira, disseram três fontes familiares aos planos à agência de notícias Reuters. O anúncio cumpriria uma promessa de campanha de impor tarifas sobre importações americanas iguais às taxas que parceiros comerciais impõem sobre exportações de Washington – o Brasil, no caso, cobra mais para vender suas mercadorias do que paga para receber as remessas da América do Norte.
Atualmente, os Estados Unidos têm uma tarifa média ponderada de importação de 2% sobre bens industriais. Metade de todas as importações de bens industriais, que representam 94% das importações dos EUA, são isentas de impostos.
“Reciprocidade”
Mais cedo nesta sexta-feira, o diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Kevin Hassett, afirmou que a política comercial dos Estados Unidos será ditada pelo princípio da reciprocidade, não só em relação a tarifas, mas também em outras áreas.
Em entrevista à Bloomberg, Hassett citou dados que mostram que empresas americanas gastaram US$ 370 bilhões em taxas para outros países em 2023, enquanto as estrangeiras pagaram apenas US$ 57 bilhões nos EUA. “Isso não é reciprocidade de maneira alguma”, disse.
Brasil na mira?
Como os detalhes da proposta não foram divulgados, não se sabe quais países seriam afetados no primeiro momento. Porém, se o critério for o desequilíbrio na alíquota, o Brasil pode ser afetado.
A tarifa média de importação aplicada aos produtos brasileiros no exterior é de 4,6%, segundo um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Além de ser 2,6 pontos percentuais maior que a americana, também se destaca em relação à média dos demais países analisados pelo estudo, que é de 2,3%.
Entre os 18 países selecionados pelo levantamento, o Brasil é aquele que está submetido à terceira maior tarifa de importação (4,6%) quando busca acessar mercados estrangeiros. O país está atrás apenas da Argentina (5,3%) e da Índia (4,8%).
Na América Latina, com exceção da Argentina e do Brasil, os demais países chamam a atenção pela baixa tarifa média a que estão sujeitos ao exportar seus produtos: Colômbia (1,2%), Chile (1,2%), Peru (1,1%) e México (0,4%). No grupo do BRICS, a alíquota brasileira é a segunda maior, atrás da Índia, mas inferior à das demais economias: China (3,7%), África do Sul (2,4%) e Rússia (2,0%).
Guerra comercial
Trump vem forçando os líderes mundiais a mudar suas estratégias, levando-os à mesa usando o poderio econômico dos Estados Unidos. Afinal, há muito poder de fogo em taxar os 4 trilhões de dólares anuais de importações americanas, o dobro do PIB brasileiro. E, já que tarifas não dependem da aprovação do Congresso, faz como bem entender.
O primeiro movimento veio na forma de imposição de tarifas de 25% aos produtos importados do México e do Canadá, os dois principais parceiros comerciais dos Estados Unidos — juntos, os vizinhos somam quase 30% do fluxo comercial americano. Ninguém quis pagar para ver e, rapidamente, os países demonstraram disposição em negociar temas que não guardam nenhuma relação com comércio exterior. Ambos se comprometeram a reforçar a segurança nas fronteiras para impedir a imigração ilegal e conter o tráfico de fentanil, a droga que se espalha com rapidez epidêmica nas grandes cidades americanas. O esforço diplomático renderia o adiamento da taxação por trinta dias.
No Brasil, o governo ainda mede a forma como o tarifaço pode impactar a economia. O país importa mais do que exporta dos Estados Unidos e não está no rol das nações que levam a balança comercial americana para o vermelho. No ano passado, teve déficit de 6,8 bilhões de dólares.
Mas o Planalto não descarta a possibilidade de retaliações pontuais, principalmente entre os produtos nacionais que enfrentam a concorrência americana no mercado externo, como o etanol. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também disse que vai trabalhar com o princípio da reciprocidade se tarifas forem impostas e alertou para o fato de Trump governar por meio de “bravatas”.
A ordem no Itamaraty, por ora, é a cautela. “Melhor ficarmos quietos, se não eles lembram que a gente existe”, disse um diplomata a VEJA.