Em meio a uma onda de violência que assola a cidade de Goma, na República Democrática do Congo (RDC), mais de 150 mulheres foram estupradas e queimadas vivas durante uma fuga em massa na prisão de Munzenze na semana passada, disse um porta-voz das Nações Unidas nesta quinta-feira, 6. O ataque ocorreu quando presos masculinos, em fuga após um motim, invadiram a ala feminina da penitenciária e cometeram os crimes, antes de incendiar as instalações.
O caso foi confirmado pela vice-chefe da força de paz da ONU em Goma, Vivian van de Perre, e condenado pelo governo congolês, que classificou o incidente como “um crime bárbaro”.
O motim resultou na fuga de aproximadamente 4.000 detentos da superlotada prisão de Munzenze, deixando a penitenciária completamente vazia e em ruínas. As mais de 150 detentas estupradas e, em seguida, queimadas vivas, refletem a violência sexual relacionada ao conflito que atormenta a RDC há décadas.
Conflito no Congo
O ataque ocorre no contexto de uma crescente violência entre o grupo rebelde M23 e as forças governamentais congolesas, que disputam o controle de Goma e agravam ainda mais a crise humanitária na região.
Na terça-feira, o M23, apoiado por Ruanda, anunciou um cessar-fogo humanitário, depois que confrontos com os militares congoleses deixaram centenas de mortos no país. Os rebeldes tomaram Goma, a principal cidade no leste do país, após um avanço relâmpago na semana passada, quando cerca de 900 pessoas foram mortas e centenas de milhares foram deslocadas devido ao confronto armado.
Em um comunicado divulgado na noite de segunda-feira, a coalizão rebelde Alliance Fleuve Congo (AFC), que inclui o grupo armado M23, disse que havia decretado a trégua “em resposta à crise humanitária causada pelo regime de Kinshasa”, referindo-se ao governo da RDC.
A fronteira leste da República Democrática do Congo é um barril de pólvora. A região é dominada por feudos liderados por diferentes grupos rebeldes e milícias, decorrentes de duas guerras regionais após o genocídio de Ruanda em 1994, quando extremistas hutus assassinaram cerca de 1 milhão de tutsis e hutus moderados. O M23 é o mais recente de uma longa linha de movimentos rebeldes tutsis no país.
O M23 alega ser um movimento para proteger a população étnica tutsi na RDC. Em 2012, rebeldes tomaram Goma brevemente, retirando-se da cidade depois que países e organizações internacionais cortaram remessas de auxílio e financiamento a Ruanda por conta de seu apoio ao grupo. No entanto, voltaram a ganhar força no final de 2021, com o apoio crescente dos ruandeses.