O grupo rebelde M23, apoiado por Ruanda, anunciou um cessar-fogo humanitário na República Democrática do Congo (RDC) a partir desta terça-feira, 4, depois que confrontos com os militares congoleses deixaram centenas de mortos no país.
Os rebeldes tomaram Goma, a principal cidade no leste do país, após um avanço relâmpago na semana passada, quando cerca de 900 pessoas foram mortas e centenas de milhares foram deslocadas devido ao confronto armado.
Em um comunicado divulgado na noite de segunda-feira, a coalizão rebelde Alliance Fleuve Congo (AFC), que inclui o grupo armado M23, disse que havia decretado a trégua “em resposta à crise humanitária causada pelo regime de Kinshasa”, referindo-se ao governo da RDC.
Em contraste com declarações anteriores, aliança rebelde afirmou que “não tem intenção de capturar Bukavu ou outras áreas”, referindo-se à capital da província vizinha de Kivu do Sul, para onde muitas pessoas deslocadas de Goma fugiram.
“No entanto, reiteramos nosso compromisso de proteger e defender a população civil e nossas posições”, disseram os rebeldes.
O porta-voz das Forças Armadas, general Sylvain Ekenge, afirmou que o apelo por um cessar-fogo não era genuíno.
“Você já viu os ruandeses cumprirem com sua palavra? Isso (o cessar-fogo) é uma comunicação para consumo internacional e para colocar a comunidade internacional para dormir de pé”, ele disse à emissora americana CNN.
O governo da RDC e grande parte da comunidade internacional acusam Ruanda de apoiar os rebeldes do M23. As Nações Unidas estimam que entre 3 mil e 4 mil soldados ruandeses supervisionam e apoiam os combatentes do grupo rebelde no leste do país.
Possível negociação de paz
O anúncio da trégua nos combates ocorre dias antes de uma cúpula regional na qual os presidentes do Congo e de Ruanda devem participar.
O presidente da RDC, Felix Tshisekedi, e o presidente ruandês, Paul Kagame, não compareceram anteriormente às negociações que tentavam intermediar um acordo de paz. No entanto, o Quênia, que detém a presidência rotativa do bloco da Comunidade da África Oriental, sugeriu que os líderes estarão presentes na cúpula que acontece neste fim de semana.
Na semana passada, Tshisekedi prometeu “uma resposta vigorosa e coordenada” contra o M23, descrevendo o grupo como “fantoche” de Ruanda.
O presidente ruandês, por sua vez, disse na segunda-feira que não tinha conhecimento de que as tropas de seu país estavam no leste da RDC.
Barril de pólvora
A fronteira leste da República Democrática do Congo é um barril de pólvora. A região é dominada por feudos liderados por diferentes grupos rebeldes e milícias, decorrentes de duas guerras regionais após o genocídio de Ruanda em 1994, quando extremistas hutus assassinaram cerca de 1 milhão de tutsis e hutus moderados. O M23 é o mais recente de uma longa linha de movimentos rebeldes tutsis no país.
O M23 alega ser um movimento para proteger a população étnica tutsi na RDC. Em 2012, rebeldes tomaram Goma brevemente, retirando-se da cidade depois que países e organizações internacionais cortaram remessas de auxílio e financiamento a Ruanda por conta de seu apoio ao grupo. No entanto, voltaram a ganhar força no final de 2021, com o apoio crescente dos ruandeses.