A euforia com que parte preponderante da elite política e econômica recebeu as pesquisas mostrando queda na aprovação do governo Lula revela muito sobre como a campanha eleitoral está antecipada e como parte das expectativas da oposição são baseadas apenas no otimismo.
Na pesquisa Genial/Quaest, a aprovação ao trabalho do presidente caiu de 52% para 47% e pela primeira vez em dois anos há uma maioria de brasileiros que desaprovam o governo.
Só que a mesma pesquisa Genial/Quaest, em recorte divulgado nesta segunda-feira, mostrou que num eventual segundo turno Lula venceria qualquer adversário: Foram traçados quatro cenários para o primeiro turno e seis para o segundo, com o presidente ganhando em todos. Os favoritos da elite política (os governadores Tarcísio de Freitas, Romeu Zema e Ronaldo Caiado), pontuaram entre 26% e 34%, um resultado similar aos dois outsiders, o cantor Gusttavo Lima (35%) e do guru de autoajuda Pablo Marçal (34%).
É um momento ruim para o governo Lula, mas a oposição também está mal. Com os números da pesquisa, parece exagerada a opinião do presidente do PSD, Gilberto Kassab, de que “se fosse hoje, o PT não estaria na condição de favorito. Eles perderiam a eleição”.
“O apoio eleitoral (a Lula) depende de economia e de possibilidades. Ninguém vai embarcar num navio que vai naufragar sabendo que vai naufragar”, analisou o ex-presidente Arthur Lira em entrevista ao Valor.
Lula venceu direta ou indiretamente cinco das últimas seis eleições presidenciais. É o político mais experimentado em atividade e o único com uma identidade real com os mais pobres. Para estes brasileiros, é fácil mostrar que as suas vidas são hoje melhores do que eram até 2022. A entrevista coletiva de quinta-feira 30 mostrou que Lula segue afiado e sabe dar as mensagens de moderação quando lhe é conveniente. Last but not least, Lula terá a máquina federal nas mãos. Apenas o ex-presidente Jair Bolsonaro conseguiu perder uma eleição estando no cargo.
Do lado da oposição há muita vaidade e pouca organização. O único líder antipetista com votos é Bolsonaro, que nos próximos meses será condenado por planejar um golpe de estado e, possivelmente, estará preso em 2026. Como ele usa a candidatura de 2026 como instrumento para adiar ou impedir a prisão, a possibilidade de união da oposição fica bloqueada. O nome favorito do establishment, Tarcísio de Freitas, corretamente avalia que só pode ser candidato com apoio de Bolsonaro, mas também que o ex-presidente é inconfiável. O pesadelo de Tarcísio é renunciar ao governo de São Paulo, assumir a candidatura e, durante a campanha, ver Bolsonaro se insurgindo para anunciar que ele, Bolsonaro, é quem mandará no futuro governo.
A possibilidade mais certa de vitória de Lula seria se Bolsonaro lançasse um de seus filhos ou a mulher em 2026. Qualquer um deles carregaria a rejeição do sobrenome, sem o carisma do ex-presidente.
Os governadores Ronaldo Caiado, Ratinho Junior e Romeu Zema se dizem candidatos a presidente por ostentação. Se os três andarem ao meio-dia no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, é mais fácil serem assaltados do que reconhecidos. A pesquisa Genial/Quaest mostra que 68% dos entrevistados não sabem quem é Ronaldo Caiado, 62% desconhecem Zema, 51% ignoram Ratinho e 45% nunca ouviram falar de Tarcísio de Freitas.
A última eleição municipal revelou que uma parcela significativa da direita quer um candidato de oposição antissistema, e não um governador como Tarcísio, Caiado e Zema. Essa opção radicalizada poderia ser a do guru de autoajuda Pablo Marçal ou do cantor Gusttavo Lima. Eles seriam capazes de galvanizar a direita antissistema, dividir os votos antipetistas e dificultar a união da oposição no segundo turno. A pesquisa mostrou que o cantor tem um potencial de votos de 29%, abaixo apenas de Lula e Bolsonaro.
Lula comanda um governo irregular e que perde mais tempo em intrigas internas do que em políticas públicas. Comparado com suas gestões anteriores, Lula é mais centralizador, impaciente e menos aberto ao diálogo. Mas ele ainda está aqui. E a oposição até agora não apareceu.