Um estudo do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG-USP) mostra que, ao longo dos anos, o volume das chuvas na cidade de São Paulo cresceu. Também há mais dias com chuva severa. De acordo com as medições realizadas na Estação Meteorológica do IAG-USP, em 90 anos, o acumulado de chuva na capital paulista cresceu, em média, 5.5 mm por ano (entre 1933 e 2023).
2025 não está sendo diferente. Até a noite deste domingo 2, São Paulo recebeu 161 mm, apenas em fevereiro. Ou seja, cerca de 65% do total de chuva esperada para todo o mês (246 mm), segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE) e a Defesa Civil do Estado de São Paulo. Em janeiro, o volume de chuva registrado nas represas do Sistema Produtor Alto Tietê (Spat) aumentou pelo terceiro ano consecutivo, com 236,6 milímetros no mês, segundo dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
A chuva severa – quando são registrados mais de 80 mm de precipitação dentro de um único dia – também aumentou ao longo das décadas. Mas o que explica esses crescimentos?
Segundo estudo da USP, o principal fator para o aumento do volume anual das chuvas e na quantidade de dias com chuvas severas é o crescimento urbano, já que a chuva é resultado de uma combinação de fatores que incluem a umidade e o aquecimento. Ou seja, além do calor natural do Sol, o crescimento urbano promove mais aquecimento pelas próprias atividades humanas, que vão desde as indústrias e veículos até o consumo de energia elétrica.
Sobre a umidade, existe uma influência direta da região amazônica, tanto da brisa marítima quanto da evapotranspiração das plantas, que chega na região Sudeste, inclusive em São Paulo, pela circulação atmosférica e, geralmente, no final da tarde – período que combinado ao calor que a cidade recebeu durante todo o dia, acaba resultando nas fortes chuvas de verão.
Quando coincidem com as chegadas de frentes frias, porém, o cenário piora para chuvas severas já que a massa de ar seco fica mais pesada, fazendo com que o ar úmido suba e forme nuvens carregadas e com correntes de ar. Assim, quanto mais calor e umidade, mais nuvens carregadas e, por consequência, mais chuvas severas.
Gabinete de crise
Por conta das chuvas severas e o volume já registrado em fevereiro, o governo de São Paulo decidiu prorrogar o Gabinete de Crise da Defesa Civil até a próxima quarta-feira, 5.
Além da capital e da Região Metropolitana de São Paulo, as regiões mais afetadas são o Vale do Ribeira, Itapeva, Bauru, Araraquara, Presidente Prudente, Marília, além da Baixada Santista, Vale do Paraíba, Serra da Mantiqueira, Litoral Norte, Campinas, Sorocaba, Barretos, Franca, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Araçatuba.
Mais chuvas no futuro
Levando em conta o crescimento urbano, que inclui a verticalização da cidade, o aumento de edifícios e de carros circulando, o estudo do IAG-USP também projetou o cenário climático para a capital paulista em 2030: as tempestades deverão ser ainda mais intensas.
Esse cenário só pode ser controlado, por exemplo, se o aumento do calor gerado pelas atividades humanas vier acompanhado por árvores e vegetação, que fora a sombra, retiram água do solo e deixam o ambiente mais úmido. Outras medidas seriam diminuir o número de veículos circulando com maior uso do transporte público e maior adesão aos veículos elétricos.