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O sentido da fofoca

Confesso: eu adoro uma fofoca. Quem não? Claro, é como sempre digo: não quero saber de maldades sobre a vida alheia. Mesmo porque eu próprio sou uma vítima de fofocas venenosas desde que comecei a aparecer na televisão, seja em programas especializados em triturar a vida alheia, seja em notícias publicadas aleatoriamente na internet. Já nem ligo nem me importo. Costumam ser mentiras deslavadas. Muitas vezes eu penso que os autores de alguns sites deviam escrever novelas eles próprios, tal a capacidade de imaginação. Deixo a boiada passar, é o melhor. Tenho amigos que entram com processos. Mas é quando falsas notícias ofendem a família, atacam a vida profissional. A realidade, porém, é estranha para mim. Sou de um tempo, quando era jornalista, em que o chefe nem aceitava entrevistar alguém por telefone, tinha de ser presencial. Hoje, chegamos a outro limite. Nem entrevistam nem perguntam, inventam qualquer coisa e publicam. Nem todos são assim. Temos os veículos de informação sérios, como nossa VEJA, na qual cada notícia é confirmada. Mas no dia a dia, principalmente na internet, haja roupa suja pra lavar!

A curiosidade maior é pela vida sexual alheia. Suspeitas sobre casos amorosos, infidelidades, povoam a internet. Ou sobre a vida íntima. Há jogos profissionais. Certa vez uma atriz teimou que ia fazer uma novela minha. Não estava escalada. Publicou em todos os jornais que fora convidada. Ninguém me ligou para confirmar, o que seria o mínimo. No fim, a novela estreou sem ela estar no elenco, mas rapidamente a jovem criou novas notícias sobre si mesma. Difícil é ter de negar quando me botam na parede. “Mas eu li que é certeza” — diz um amigo. “O que você leu é mentira” — respondo. A pessoa me deixa com a certeza de que estou mentindo.

“Eu mesmo sou vítima do veneno desde que comecei a aparecer na TV. Já nem ligo nem me importo”

Mas eu compreendo perfeitamente o leitor. Porque também fico na dúvida. “Será verdade e eu não sabia?” Há um prazerzinho sinistro em ter uma informação confidencial. Sou como qualquer um: quero saber. Depois me arrependo: “Mas como fui acreditar nessa bobagem?”. Eu mesmo já dirigi uma revista de fofocas, nos saudosos tempos de imprensa. Sei perfeitamente que o compromisso com a realidade nessas revistas e sites é tênue. Mesmo quando é algo confirmado, como a foto de um beijo secreto, pode ser moralmente discutível. É justo expor a intimidade de alguém dessa maneira?

O correto seria deixar as fofocas de lado e focar na questão profissional. Mas em um casamento glorioso, quem não quer saber o modelo do vestido da noiva, quanto custou etc.? Se a noiva fugir com o padrinho, cadê os detalhes, os acontecimentos mais intensos, por assim dizer?

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E aí vem a grande verdade. Se as informações forem falsas, tanto faz para quem lê. Ninguém segue as fofocas com o mesmo desejo de exatidão que o panorama político, o resultado das eleições. As pessoas querem, de fato, um estímulo para a imaginação. Há notícia que é notícia, confirmada e verificada. Há notícia cujo único objetivo é ter o que conversar com os amigos e se admirar: “Mas não diga! Verdade?”.

Publicado em VEJA de 31 de janeiro de 2025, edição nº 2929

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