Mesmo com todos os avanços da medicina, as campanhas de prevenção e as linhas de tratamento de considerável êxito, o câncer ainda carrega um peso que vai além de seu impacto físico, muitas vezes acompanhado de medo e silêncio. Entramos em 2025 e a doença permanece, ainda que para uma parcela cada vez menor da sociedade, um tema evitado, cercado de estigmas e desinformação, que dificultam tanto o diagnóstico precoce quanto a jornada de cuidados.
É verdade que, na perspectiva das últimas décadas, tivemos inúmeras vitórias nesse sentido, mas reduzir o tabu está entre os desafios que enfrentamos na luta contra o câncer. Romper essa barreira é essencial para que a sociedade avance na prevenção e no enfrentamento da doença.
Vencer o câncer requer, antes de tudo, acesso à informação de qualidade e uma mudança de percepção. A oncologia, afinal, é uma área relativamente recente dentro da história da medicina, e tem evoluído de maneira acelerada nos últimos anos. O progresso em biotecnologia, em genômica e novas abordagens terapêuticas têm proporcionado avanços significativos, oferecendo esperança real para um número crescente de pacientes.
o desenvolvimento das terapias-alvo, por exemplo, o tratamento oncológico tem se tornado cada vez mais preciso, focando diretamente nas características específicas das células tumorais. Esse tipo de intervenção representa uma mudança exponencial na forma como combatemos a doença, com potencial de melhorar drasticamente a eficácia e a segurança das intervenções.
Contudo, a luta contra câncer deve ter como arsenal não apenas o avanço tecnológico e científico; ela também depende de uma mudança cultural e comportamental. O medo e o preconceito que envolvem a enfermidade fazem com que muitas pessoas evitem exames de rotina ou retardem a busca por tratamento.
Dessa forma, precisamos normalizar as discussões sobre a doença. É necessário que a sociedade tenha a clareza e a serenidade de que o diagnóstico precoce e o tratamento são aliados poderosos e que a vida pode continuar com dignidade e qualidade, durante e após o tratamento.
Hoje, tecnologias e terapias que proporcionam resultados cada vez mais positivos. O trabalho de democratização do acesso aos tratamentos personalizados, que consideram a genética individual de cada tumor, vai cada vez mais possibilitar abordagens mais eficazes e menos invasivas.
A combinação de avanços como a imunoterapia, que fortalece o sistema imunológico para atacar as células tumorais, com as terapias-alvo, que atacam as mutações específicas do tumor, representa uma nova era na oncologia. Com essas inovações, os métodos para tratar a doença devem evoluir em uma velocidade nunca vista, abrindo caminho a intervenções cada vez mais individualizadas e adaptadas a cada paciente.
Superar o câncer é também um processo de vencer o medo e a desinformação que ainda nos cercam. Para que a sociedade enfrente essa questão de maneira mais aberta, devemos promover uma visão mais humanizada e realista da doença. O câncer não deve ser mais encarado como uma sentença, mas como uma condição que pode ser tratada e, em muitos casos, superada.
Transformar o entendimento sobre a doença e dissolver o tabu que a envolve é um passo decisivo para que mais pessoas tenham acesso ao cuidado necessário, com esperança e dignidade. Ao encararmos o câncer com coragem e transparência, estamos construindo um futuro em que o conhecimento e a solidariedade possam, de fato, vencer o medo e permitir que mais pessoas se beneficiem da oncologia moderna.
* Bruno Ferrari é oncologista, fundador e CEO da Oncoclínicas