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Sabor em expansão

Se eu lhe perguntar o que une os presidentes americanos Donald Trump e Franklin Delano Roosevelt, talvez você não consiga responder de imediato. Vou poupar você do esforço de procurar pontos de contato históricos entre o republicano recém-empossado e o democrata inventor do New Deal e adiantar minha inusitada resposta: uma família de confeiteiros franceses. Esse elo tão imprevisível eu descobri em uma pesquisa sobre o caramelo salgado.

Sempre fui entusiasta da mistura de doce com salgado. Na alquimia dos sabores, ela causa um efeito especial. Enquanto o açúcar age na dopamina, neurotransmissor ligado à recompensa, o sal estimula as papilas gustativas responsáveis por perceber o azedo e o umami, ampliando a percepção do gosto doce. Mas nem todo exemplo dessa combinação alcança tanta popularidade a ponto de chegar a um menu presidencial, como se deu com o caramelo salgado, que no mês passado complementou a sobremesa gelada de maçã com sorvete servida aos convidados da posse de Trump.

Então o que o caramelo salgado tem de tão especial? Seria mesmo verdade que esse sabor tão apreciado tinha sido obra do acaso, como se conta?

A história está cheia de acidentes felizes, na culinária ou não, que transformam erros em sucessos. Mas sinto lhe decepcionar desta vez, caro leitor. Não é verdade que um confeiteiro francês salgou a receita do caramelo por engano. Henri Le Roux – esse é seu nome – sabia muito bem o que estava fazendo, como herdeiro de uma família do ramo.

Seu pai, Louis Le Roux, era, como ele “pâtissier”. Ao que parece, também era inquieto. Antes de estabelecer seu negócio na França, Louis morou por seis anos nos Estados Unidos e um na Austrália. Durante sua temporada em Nova York, foi encarregado da sobremesa servida para comemorar a vitória de Roosevelt sobre seu opositor, Herbert Hoover, nas eleições presidenciais de 1932.

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Não se sabe como Le Roux adoçou o jantar dos vencedores no hotel Biltmore, QG de campanha dos democratas, o qual já não existe. Os Estados Unidos passavam fome e, talvez por decoro, não se registraram detalhes do banquete. Sabe-se porém que, na volta de suas aventuras, o confeiteiro abriu uma confeitaria na Bretanha, e foi nessa loja do pai que Henri deu os primeiros passos no ofício. O caramelo salgado honra essas origens.

O nome oficial do doce inventado por Henri Le Roux em 1977 era “caramel au beurre salé”, ou caramelo à base de manteiga com sal – ela é um ingrediente essencial da culinária da Bretanha. Na tentativa de se destacar no mundo dos doces, ele buscou a tradição de sua terra. Acabou criando um hit. No primeiro ano, ele produziu 400 quilos dos caramelos mastigáveis. No segundo, já foram 700. Hoje, Le Roux tem lojas em Paris e em outras cidades francesas, além da confeitaria original em Quiberon e de pontos de venda até no Oriente Médio. Mas o sabor chegou mais longe ainda.

Hoje ele está no cardápio de cafeterias, em chocolates e cookies, na pipoca e em drinques. Transformado em essência, vai se tornando quase tão popular quanto a baunilha. Até aos ambientes dá um toque aconchegante, na forma de velas perfumadas. Você pode nunca ter ouvido falar da cidadezinha onde ele nasceu. Mas não é preciso ir à França, muito menos ser convidado de um banquete para provar seu sabor – o caramelo salgado já se democratizou.

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