Detentor de uma das áreas mais bem-avaliadas do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Educação, Camilo Santana, tem enfrentado uma maré de más notícias desde que o seu nome passou a ser ventilado para uma possível sucessão do atual presidente.
O primeiro revés veio na última semana, quando o programa Pé-de-Meia, que paga bolsas a estudantes do Ensino Médio, entrou na mira do Tribunal de Contas da União (TCU). A Corte determinou o bloqueio de 6 bilhões de reais do programa alegando que existiria uma suposta manobra fiscal para desviar recursos do orçamento para abastecer a iniciativa. O governo recorre na tentativa de reverter o veredicto, mas a eclosão do caso já foi mais do que o suficiente para unir a oposição, que afirma ter cem assinaturas para pedir o impeachment de Lula por crime de responsabilidade. Mais do que o afastamento do presidente, o deputado federal Kim Kataguiri (União-SP) chegou a pedir o impeachment do próprio ministro da Educação e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Nesta semana, outro golpe na gestão de Camilo. O MEC atrasou o envio da lista de aprovados no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2025 às universidades públicas, revoltando milhares de vestibulandos, que foram às redes queixar-se da demora. O ministério anunciou nesta terça-feira, 28, que decidiu estender o calendário até 3 de fevereiro — o prazo inicial era 31 de janeiro. Os resultados, que deveriam ter sido divulgados no domingo, 26, atrasou até o dia seguinte e, mesmo assim, inicialmente não havia a indicação das posições dos alunos na lista de espera.
Ainda há que se calcular o quanto os episódios irão impactar, de fato, o governo — e a gestão de Camilo Santana no MEC –, mas não há como negar que os assuntos desgastam uma trajetória até então ascendente.
Ascensão e trunfos
Reportagem de VEJA deste mês mostrou como, entre os nomes que correm “por fora” como alternativas de sucessores de Lula, quem se encontra em melhor momento é Camilo Santana. Ele passou a ser ventilado como um possível plano B principalmente pela ala de Gleisi Hoffmann, presidente da sigla e rival interna de Haddad, principal “adversário” para o posto.
O titular do MEC tem os seus trunfos para tentar vencer essa disputa. Pesquisa Ipec de dezembro mostrou que a educação é avaliada positivamente por 37% do eleitorado, como regular por 27% e como ruim ou péssima por 34%. Pode não ser uma maravilha, mas é a única área entre todas as nove pesquisadas em que a avaliação positiva supera a negativa.
Outra forte carta nas mãos de Camilo é justamente o Pé-de-Meia, que já se tornou o quinto maior programa social do governo, com 4 milhões de beneficiados e 12,5 bilhões de reais pagos em 2024. A iniciativa, lançada em 2023, só tem menos recursos do que Bolsa Família, BPC, Seguro-Desemprego e Abono Salarial e supera, entre outros, o Auxílio Gás e o Farmácia Popular. O sucesso é tamanho que o governo já colocou em prática a sua expansão, na forma de duas novas modalidades criadas com o objetivo de aumentar o número de docentes na rede pública.