Há algo de podre no reino do Oscar – e Fernanda Torres já pode sentir esse cheiro. Nesta segunda-feira, 27, o respeitado site americano Deadline divulgou um pedido de desculpas da atriz brasileira por ter feito uma cena com blackface – ato de pintar o rosto para interpretar uma pessoa negra – em um quadro do Fantástico, em 2008. “Hoje sabemos que o blackface é inaceitável. Essa é uma conversa importante que precisamos continuar tendo para prevenir a normalização de práticas racistas”, diz ela em trecho do comunicado. Apesar da resposta bem feita, Fernanda, indicada ao Oscar de melhor atriz pelo filme Ainda Estou Aqui, teve a reputação manchada ao ter seu nome atrelado a uma prática racista.
Em seguida, o próprio site fez uma ponderação sobre a razão que o levou a publicar a notícia. “O Deadline preza por proteger filmes e artistas em meio à corrida por prêmios quando erros do passado voltam à tona, organicamente ou de forma deliberada, pois acreditamos que os grandes prêmios de Hollywood devem ser para o trabalho indicado, e nada mais. Por isso, achamos justo permitir que Torres diga sua verdade diante disso. O esquete do Fantástico não tem nada a ver com a performance de Torres em Ainda Estou Aqui, que também foi indicado a melhor filme e filme internacional.”
Fernanda seria vítima de uma campanha de desmoralização?
O parágrafo de explicação do Deadline diz muito não só sobre esse período pré-Oscar, mas principalmente sobre o modus operandi em Hollywood e a velha tática da campanha de desmoralização. Recentemente, por exemplo, as celebridades Blake Lively e Justin Baldoni mergulharam em processos judiciais envolvendo o filme É Assim que Acaba — Blake acusa Baldoni, colega de elenco e diretor do longa, de assédio e diz que ele promoveu uma campanha de desmoralização contra ela, recuperando erros do passado da atriz para intimidá-la. A tática tem grandes efeitos mercadológicos. E, sem dúvidas, afeta os que disputam o cobiçado Oscar — ainda mais os que têm chances de ganhar.
Encontrar deslizes de artistas e de bastidores de filmes é uma maneira de tirar votos deles. Fernanda não está só. Adrien Brody e Felicity Jones, de O Brutalista, foram afetados pela revelação de que o filme usou inteligência artificial para melhorar o sotaque húngaro dos dois que interpretam sobreviventes do Holocausto tentando a vida nos Estados Unidos. As atrizes de Emilia Pérez também estão na mira dos concorrentes: o controverso uso de IA na voz da protagonista Karla Sofía Gascón também tirou pontos da atriz na corrida pelo Oscar, assim como o espanhol mediano das estrelas americanas Selena Gomez e Zoe Saldaña. Zoe, aliás, também foi acusada de fazer blackface no filme de 2016, no qual interpreta Nina Simone – a atriz negra teria usado maquiagem para ficar mais próxima do tom de pele da cantora.
Dificilmente, porém, alguém tira o Oscar de Zoe, uma favorita mesmo antes de ser indicada. Ela tem a seu favor algo que Fernanda não possui: ser amplamente conhecida pelos votantes da Academia. A atriz brasileira passou décadas fazendo comédias politicamente incorretas por aqui e assumindo riscos que não se faz em Hollywood. Logo, outros golpes podem surgir na trilha de Fernanda ao Oscar.