Todo partido que pleiteia cargos de primeiro escalão tem objetivos variados. Postos em ministérios relevantes podem ampliar influência política, facilitar o acesso aos cofres públicos, abrigar apadrinhados na administração e catapultar carreiras para voos mais ambiciosos. Podem também significar outra coisa. Nos últimos meses, o União Brasil e o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), favorito para presidir o Senado a partir de fevereiro, demonstraram apetite, no mínimo, incomum pelo Ministério da Justiça.
Alcolumbre, que teve papel decisivo na escolha dos três nomes do partido que hoje ocupam o primeiro escalão do governo, tem planos de emplacar Rodrigo Pacheco (PSD-MG) no cargo. Seria apenas um legítimo rearranjo na correlação de forças entre partidos não fosse o diagnóstico feito por auxiliares próximos do ministro Ricardo Lewandowski. Para eles, a cobiça pela cadeira é uma tentativa de assumir o controle da Polícia Federal.
Republicana, em teoria a corporação comandada pelo delegado Andrei Rodrigues tem autonomia para tocar suas próprias investigações, elencar quais casos terão prioridade, escolher áreas que serão contempladas com recursos e apurar suspeitas contra integrantes do governo ou da oposição.
Tentar manobrar o ritmo e os rumos de um caso policial não é impossível. Superior hierárquico da PF, o Ministério da Justiça pode, por exemplo, atrasar ou agilizar o cerco a determinado suspeito simplesmente cumprindo funções burocráticas. A pasta é responsável, entre outras coisas, por nomear superintendentes que chefiarão as equipes nos estados, liberar dinheiro para tocaias contra alvos específicos e autorizar ou vetar viagens de investigadores a serviço.
Não é de hoje que parlamentares de diferentes matizes alimentam ambições de tomar as rédeas da PF. Agora, por um motivo adicional. Mais de dez anos depois do início da Lava-Jato, a polícia tem avançado em investigações sobre um escândalo capaz de rivalizar com os mais conhecidos propinodutos da história do país.
A partir da fraude de uma licitação para obras contra a seca, foi identificada uma organização criminosa suspeita de ter movimentado quase 1,5 bilhão de reais em empreendimentos e contratos fraudulentos, inclusive com o uso criminoso de dinheiro de emendas. Menções ainda superficiais a parlamentares como ex-favorito a presidir a Câmara dos Deputados Elmar Nascimento (União Brasil-BA) levaram o caso para o Supremo, a quem caberá dizer se há ou não motivos para o alto nível de preocupação que tomou conta de grande parte da classe política.