Todo mundo já sabe que o novo governo de Donald Trump nos Estados Unidos tem potencial de mudar o xadrez dos investimentos globais e trazer volatilidade aos mercados. O que muita gente se pergunta agora é quais ativos passarão a fazer mais sentido em meio a esse ambiente de incerteza. E existe um em específico que tem força não apenas para reduzir os choques negativos, como também fornecer uma fonte de lucro diversificada e descorrelacionada de outros ativos: o ouro. É o que nota estudo realizado pelo family office Mirabaud.
Na quinta-feira, 23, o ouro atingiu US$ 2,750 a onça-troy, perto do nível mais alto desde o início de novembro e não muito distante do seu recorde em US$ 2,790 a onça. Esse movimento já é resultado da busca por ativos seguros, que vai muito além de procurar moedas fortes, como o dólar.
Segundo a Mirabaud, hoje, a relação entre o ouro e os retornos reais — acima da inflação — é “complexa e dinâmica”, porque o preço da commodity tende a ter um comportamento inverso com a taxa de juros real de longo prazo. Ou seja: quando os rendimentos reais dos investidores caem, o ouro sobe. Isso, porém, não está escrito na pedra e pode mudar de acordo com diversos fatores, como as expectativas de inflação, a demanda por risco, a liquidez e o crescimento da atividade. “Há períodos em que os retornos do ouro e do real se movem na mesma direção, principalmente durante os ciclos de aumento das taxas ou desaceleração econômica”, diz trecho da análise da Mirabaud.
No curto prazo, o ouro não tem um desempenho “convincente”, já que é um ativo de elevada instabilidade, como todas as commodities globais. Mas, no longo prazo, o ouro serve de proteção, em especial se combinado com outras classes de ativos com diferentes propósitos — pagamento de renda, ganho de capital e defesa da carteira via outras opções, como moedas fortes.
“Os mercados econômicos em baixa são exatamente aqueles para os quais os investidores em metais preciosos estão preparados”, afirma a casa. “Em um mercado em baixa, os acionistas tendem a vender suas ações quando as ações caem, para não perder mais dinheiro. Nesse momento, para equilibrar seus portfólios, eles recorrem ao ouro e à prata como ativos seguros para se protegerem.”
O escritório nota que, historicamente, o mercado em queda é um momento de ouro em alta, com um “efeito pêndulo” evidente em diversos períodos de busca por refúgio nos investimentos da história, como na Grande Depressão dos Estados Unidos em 1929, na crise sobre o teto da dívida americana em 2011, no Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) em 2016 e na pandemia da Covid-19.
Há ainda o movimento dos bancos centrais na compra de ouro no mercado global. Em outubro de 2024, diz o estudo, os bancos centrais aumentaram seus estoques da commodity em 60 toneladas, maior volume mensal no ano passado. Em novembro, foram mais 53 toneladas. Até mesmo o Banco Popular da China (PBoC, na sigla em inglês) tem feito esse movimento. “A demanda dos bancos centrais por ouro, atualmente acima da média, não mostra sinais de redução”, diz a análise. “É provável que a compra sustentada pelos bancos centrais compense a queda na demanda dos consumidores e ajude a manter os preços do ouro elevados.”
A Mirabaud também lembra que o ouro é frequentemente chamado de “commodity da crise”, porque proporciona refúgio às pessoas em momentos de tensões globais no campo geopolítico, e não apenas no campo financeiro. Isso pode ser visto, por exemplo, na guerra da Ucrânia e a Rússia, além dos conflitos no Oriente Médio.