Gabriel Galípolo comandará sua primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), como presidente do Banco Central (BC), pressionado pela escalada dos preços dos alimentos. Esses produtos estiveram entre os principais vilões da alta de 0,11% do IPCA-15 de janeiro, considerado a prévia da inflação oficial.
O resultado marca uma desaceleração em relação a dezembro, quando o indicador registrou alta de 0,34%. Ainda assim, ficou muito acima da mediana de projeções do mercado, que falava em deflação de 0,01%. O resultado, que engloba as duas primeiras semanas de janeiro e as duas últimas de dezembro.
Apesar da inflação acima do esperado, os economistas acreditam que, por ora, o BC não mudará seu plano de voo no encontro marcado para os dias 28 e 29 de janeiro. “O Copom deve manter o ritmo e optar por uma alta de 1 ponto percentual (p.p) na Selic nas próximas reuniões”, diz Igor Cadilhac, economista do PicPay.
Um aumento desta magnitude já é esperado desde a última reunião do Copom, em dezembro, quando o colegiado indicou elevações de 1 p.p para as reuniões de janeiro e março de 2025. O Comitê não sinalizou, porém, qual deve ser o ponto final do ciclo de alta da Selic, que atualmente está em 12,25%.
A inflação brasileira fechou 2024 com alta acumulada de 4,71%, estourando o teto da meta (4,5%) perseguida pelo BC. “Para o consumidor, esse aumento representa uma continuação do encarecimento do custo de vida, especialmente em itens essenciais, impactando diretamente o poder de compra”, diz Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos. O ponto mais sensível é o preço dos alimentos, que subiram 7,69% no ano passado, impulsionados principalmente pelo preço da carne, do café e do óleo de soja.
Nas primeiras semanas de 2025, mais uma alta: o grupo de alimentação e bebidas foi o maior responsável pela alta do IPCA-15, com avanço de 1,06% no período. O avanço já entrou no radar do presidente Lula e sua equipe econômica, que tem se mobilizado para pensar em soluções para atenuar a alta.
A tarefa, no entanto, não é simples. “Com o governo limitado fiscalmente, o alívio nos preços dos alimentos exige soluções sem novos gastos ou renúncias tributárias. Melhorar a logística, estimular a concorrência na distribuição e simplificar processos agrícolas podem ajudar a conter os custos”, diz Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, chegou a dizer que o governo estudava “intervenções” para conter os preços, mas voltou atrás depois da repercussão negativa. Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negou o boato de que o governo pretendi relaxar a política fiscal para baratear os alimentos. Segundo ele, a queda do dólar e a grande safra prevista para este ano serão suficientes para conter os preços.