Entre as décadas de 1990 e 2000, era muito comum vê-lo nos elencos de comédias como Quem Vai Ficar com Mary? e Zoolander. Hoje, seu nome é atrelado a tramas sérias, como Ruptura. Por que essa transição? Eu sinto que uma coisa está ligada à outra. Não sou o “palhaço triste”, que é aquele clichê do comediante que faz rir, mas tem uma tristeza por dentro. É que a vida é uma comédia dramática. A comédia está ligada às emoções e à empatia. Para conquistar o público, o personagem precisa mostrar vulnerabilidades. Então, são dois lados da mesma moeda, o riso e a tristeza.
Um marco dessa transição foi o filme A Vida Secreta de Walter Mitty (2013), o qual o senhor estrela e dirige. Diria que foi essa produção que o fez seguir por outros caminhos? Eu adorei fazer esse filme, e ele é muito especial para mim, mas eu diria que ser dirigido por Noah Baumbach em Enquanto Somos Jovens (2014) foi bem significativo. Aprendi muito vendo-o trabalhar e me senti inspirado ao notar como ele segue o próprio instinto, em formatos simples, mas que são impactantes. Eu diria que foi uma experiência formativa.
O senhor já afirmou que o fracasso do filme Zoolander 2 (2016) o levou ao caminho de Ruptura — e se o filme tivesse sido um sucesso, provavelmente teria se distraído fazendo outra sequência. Há males que vêm para o bem? Sim, aquele foi um momento que me permitiu ter tempo para me dedicar ao que eu realmente adoro, que é dirigir. Até ali, eu estava muito envolvido em dirigir, produzir e atuar, tudo junto. Tive de parar e repensar minhas prioridades e, assim, encontrar projetos como essa série.
Ruptura, aliás, é uma distopia corporativa, em que os funcionários de uma empresa não se lembram da vida pessoal enquanto estão no trabalho, e vice-versa. Esses dilemas entre os dois lados da vida já o preocupavam? Eu optei por um caminho no qual mantive uma interação constante entre minha vida criativa, profissional e familiar. Ao longo dos anos, consegui equalizar essa conexão. Meus dois filhos cresceram, já são adultos, e são atores, mas com interesses artísticos diversos. Minha esposa, Christine Taylor, também é atriz.
E como funciona essa dinâmica? A gente conversa muito. A arte é a trama que interliga nossas vidas e propósitos. Mas também foi importante aprender a enxergar o momento de se desligar do trabalho e só estar presente um para o outro.
Outra questão de Ruptura é sobre a divisão de tarefas no trabalho. Como se vê nesse quesito? Bem, eu descobri que gosto mais de dirigir do que de atuar. E o processo todo de uma produção de série ou filme demanda trabalhar em equipe, o que eu adoro. Mas gosto, principalmente, da sala de edição, onde fico sozinho e tenho controle sobre o produto final que as pessoas vão ver.
Publicado em VEJA de 24 de janeiro de 2025, edição nº 2928