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Série Brasil no Espaço: o “astronauta” brasileiro que nunca saiu da Terra

Na década de 1980, a cultura pop era marcada por uma enxurrada de filmes de ficção científica que exploravam a interação humana com o espaço. Clássicos como De Volta para o Futuro, E.T. – O Extraterrestre e até mesmo a franquia Guerra nas Estrelas faziam crianças – e adultos – sonharem com a vida além da órbita terrestre. Entre as crianças estava Lucas Fonseca, que, inspirado pelas aventuras da ficção, alimentava o sonho de se tornar cientista da Nasa. “Minha geração cresceu impactada pelo entretenimento voltado para o espaço. Conheci várias pessoas que sonhavam em ser astronautas e trabalhar na Nasa. Acho que minha diferença foi ser muito ingênuo e achar que eu realmente podia”, relembra Fonseca, rindo.

Após a infância embalada por filmes de exploração espacial, Lucas ingressou no curso de engenharia mecatrônica na USP. “Nessa época, eu já enviava currículos e e-mails pedindo um estágio na Nasa”, conta. “Acho que todo mundo me achava meio maluco”. Concluída a graduação, ele deixou momentaneamente os sonhos de criança para trabalhar na indústria farmacêutica. “Mas não era aquilo que eu queria”, recorda. Decidido a mudar de rumo, largou tudo e foi para a França estudar engenharia espacial. A aposta deu certo e tempos depois, chegou a tão sonhada proposta. Mas, uma surpresa: Lucas recusou. O motivo? Junto com a oferta da agência espacial americana, veio uma outra oportunidade, desta vez da ESA, a Agência Espacial Europeia. Para essa, ele disse sim.Na ESA, Lucas integrou um projeto sem precedentes para a humanidade. Ele se tornou o único brasileiro a participar da Missão Rosetta, a primeira do mundo a pousar uma sonda em um cometa. Os dados coletados revelaram informações valiosas sobre a composição, estrutura e origem dos cometas, trazendo pistas valiosas sobre a formação da nossa vizinhança cósmica. “Não me arrependo nem por um segundo. A decisão era simples. Pensei: quero ir para a Nasa ou quero fazer algo que ninguém nunca fez?”, reflete.

A participação na Missão Rosetta garantiu a Lucas uma vida estável na Alemanha, onde chegou a se tornar funcionário público. Essa estabilidade, porém, durou apenas três anos. Em 2013, ele tomou outra decisão ousada e decidiu abandonar tudo e voltar para o Brasil. Aqui, assumiu o papel de astro-empreendedor, tornando-se uma figura central na defesa da economia espacial brasileira. Em uma missão quase tão desafiadora quanto pousar uma sonda em um cometa, Lucas buscou financiamento e parceiros para fundar a Airvantis. Com a startup, nasceu um novo desafio: a Garatéa-L, primeira missão projetada para colocar uma sonda brasileira na órbita da Lua.

O projeto, que envolve um nanossatélite do tamanho de uma caixa de sapatos, tem como objetivo estudar a sobrevivência de bactérias e fungos extremófilos em condições espaciais extremas. Orbitando a Lua, a sonda enfrentará períodos de alta e baixa exposição à radiação espacial, especialmente a proveniente do Sol. O objetivo é entender como esses organismos reagem, gerando conhecimentos que podem beneficiar os humanos, como o desenvolvimento de medicamentos ou tratamentos para mitigar os efeitos negativos da radiação.

Além de sua relevância científica, a Garatéa-L tem um impacto estratégico: promove e consolida a participação do Brasil na exploração lunar. “Essa é uma decisão que molda nosso futuro, porque coloca o país no mesmo patamar de outros que estão desenvolvendo uma economia de exploração da Lua”, afirma Lucas. Hoje, o projeto integra o portfólio de missões lunares do Brasil, ao lado de propostas do ITA e da Embrapa.

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Embora seja uma missão sofisticada, os custos – cerca de 10 milhões de dólares – têm sido um obstáculo. Desde que começou a ser planejada, em 2016, apenas 10% do valor total foi arrecadado, grande parte vindo da iniciativa privada. O projeto segue na fila, disputando editais de financiamento público. “Enquanto der, seguiremos tentando”, garante Lucas. Para quem já disse não à Nasa e participou de uma missão inédita no mundo, tudo parece possível.

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Série Brasil no Espaço: essa reportagem é a terceira de uma sequência de quatro matérias que buscam desmistificar a ideia de que o Brasil não faz ciência espacial. Hoje, o investimento nessa área de pesquisa é pequeno e o impacto internacional ainda não é tão amplo quanto o das grandes economias, mas consideramos importante mostrar que existem bons profissionais no Brasil e que, mesmo sem grandes apostas, há potencial para encontrar boas soluções e ganhar protagonismo nesse ambiente cada dia mais competitivo. 

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