O diretor David Lynch morreu nesta quinta-feira, 16 de janeiro, aos 78 anos. Mestre do surreal, ele se tornou mundialmente conhecido por seu estilo próprio de noir, marcado por sequências oníricas, narrativas fragmentadas e enigmas impenetráveis — além, claro, de instigar o mundo com a pergunta central de Twin Peaks, seu grande e antológico sucesso: “quem matou Laura Palmer?”. Em 1984, porém, o cineasta foi convencido pelo estúdio Universal a adaptar a saga de ficção científica filosófica de Frank Herbert: Duna. Parecia um casamento perfeito, mas exigências corporativas e a escala ambiciosa do projeto turvaram sua visão artística, solidificando assim a única mancha no currículo de um dos maiores cineastas da história recente.
Com um orçamento de 45 milhões de dólares, Duna arrecadou apenas 37,9 milhões nos cinemas em todo o globo, causando prejuízo fora do normal para a Hollywood da época. A intenção do estúdio era replicar o sucesso de Star Wars na década anterior, mas o resultado apenas ergueu comparações negativas e expectativas frustradas ao público acostumado a jornadas do herói descomplicadas.
Antes de Lynch, o projeto já havia sido comandado — e abandonado — por Ridley Scott, que optou por dirigir Blade Runner – O Caçador de Androides (1982). O diretor de Veludo Azul, por sua vez, havia negado dirigir Star Wars: Episódio VI – O Retorno de Jedi (1983) e nunca havia lido a saga de Herbert. Estimulado pelo produtor Dino De Laurentiis, ele se tornou admirador da trama e concordou em assumir o longa desde que também escrevesse o roteiro. Ao condensar suas próprias ideias junto às quase 700 páginas de Duna em pouco mais de duas horas, porém, o cineasta chegou a um longa estufado, que Roger Ebert considerou “uma verdadeira bagunça, um mergulho incompreensível, feio, desestruturado e inútil em um dos roteiros mais confusos de toda a história”.
Apesar disso, o longa ainda pode ser visto no Brasil pelo streaming MGM+ e acumula uma considerável base de fãs que o alçou ao status de “clássico cult”. Para muitos, as idiossincrasias de Lynch superam as pretensões de adaptação e são motivo de fascínio — como a criança maléfica vivida por Alicia Witt e o visual exagerado do ator Kyle MacLachlan e do cantor Sting, muito mais colorido e fantasioso do que a interpretação séria e bem-sucedida de Denis Villeneuve estrelada por Timothée Chalamet.
Após o fracasso, Lynch nunca mais retornou a uma superprodução hollywoodiana e se debruçou sobre trabalhos que lhe permitissem liberdade. Pelo mesmo motivo, abandonou Twin Peaks por boa parte da segunda temporada em 1991, só retornando para o encerramento com a a última leva de episódios, lançada em 2017, sobre a qual teve controle absoluto.
Três anos após Duna, Lynch lançou o hit Veludo Azul, e pôde continuar sua rica filmografia com Coração Selvagem (1990), A Estrada Perdida (1997), Cidade dos Sonhos (2001) e Império dos Sonhos (2006), além de diversos curtas-metragens.
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