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Voo arriscado: Fusão entre Azul e Gol cria uma gigante fragilizada

O Grupo Abra, controlador da Gol e da Avianca, assinou um memorando de entendimento com a Azul, marcando o início de uma possível fusão entre as duas maiores companhias aéreas do país. Essa união tem o potencial de redesenhar o setor de aviação brasileiro, oferecendo maiores opções de voos e conectividade tanto nacional quanto internacionalmente. Contudo, as dificuldades enfrentadas por ambas as empresas sugerem que os benefícios dessa fusão podem não vir sem desafios substanciais.

A combinação de Azul e Gol, embora mantenha suas marcas e operações de forma independente, pode criar um player dominante no mercado brasileiro, com mais de 60% de participação em passageiros transportados. A expectativa das duas companhias é clara: expandir rotas, aumentar a conectividade e oferecer mais destinos aos consumidores. Em teoria, essa sinergia traria mais eficiência operacional, maior poder de negociação com fornecedores e redução de custos.

A Azul, fundada por David Neeleman em 2008, cresceu rapidamente ao atender mercados regionais negligenciados pelas grandes companhias, e a Gol, por sua vez, construiu uma reputação como operadora de baixo custo. Juntas, as empresas teriam uma frota de mais de 500 aeronaves, consolidando sua presença em rotas domésticas e expandindo sua rede internacional.  Para o consumidor, os benefícios podem ser significativos. O aumento na oferta de rotas deve melhorar o acesso a diversas cidades menores e aumentar a conectividade entre centros econômicos do país. A fusão também pode impulsionar a negociação com fornecedores de aeronaves e combustíveis, além de permitir uma gestão mais eficiente da malha aérea, o que traria reflexos positivos em tarifas e serviços.

No entanto, há uma realidade financeira dura por trás dessa fusão. A união de passivos pode dificultar ainda mais a capacidade da nova empresa de captar recursos ou renegociar suas dívidas a termos favoráveis. Ambas as empresas enfrentam pesadas dívidas que, somadas, chegam a R$ 59 bilhões. A Gol está em processo de recuperação judicial nos EUA, o chamado Chapter 11, enquanto a Azul recentemente passou por negociações para estabilizar suas operações. Para os analistas, o grande desafio não está apenas em unir duas companhias com redes complementares, mas em lidar com o peso financeiro e a deterioração operacional de ambas.

Segundo o especialista em reestruturações financeiras e fusões e aquisições, Flavio Málaga, o endividamento e as dificuldades econômicas das duas empresas são significativos. “A soma de duas companhias que já estão fragilizadas financeiramente não gera, automaticamente, uma operação saudável. O esforço de integração será colossal, e os resultados podem demorar a aparecer”, afirma ele. O endividamento conjunto é acompanhado por um prejuízo líquido estimado em R$ 10 bilhões e um passivo a descoberto de R$ 49 bilhões.

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Além disso, a fusão se dá em um contexto de um setor aéreo latino-americano já fragilizado pela pandemia da Covid-19. Embora o mercado de aviação tenha mostrado sinais de recuperação, os problemas estruturais no Brasil permanecem, e a fusão pode postergar uma discussão necessária sobre o que torna o ambiente tão desafiador para o setor. A volatilidade dos preços dos combustíveis, que representa cerca de 40% dos custos operacionais das companhias aéreas, continua sendo um fator de risco. A incerteza política e econômica no Brasil também complica o cenário. O setor aéreo é especialmente sensível às oscilações do dólar – que atualmente supera R$ 6 – e à inflação, agravando-se com o recente aumento nos custos de insumos essenciais, como o querosene de aviação, o que pressiona ainda mais as margens operacionais. Os desafios da infraestrutura aeroportuária no Brasil, com os principais terminais operando próximos ao limite de capacidade, resultam em frequentes atrasos e maior tempo de solo para as aeronaves, dificultando a eficiência operacional.

No âmbito regulatório, a transação ainda precisa ser aprovada pelos órgãos antitruste, que certamente avaliarão com cautela os impactos dessa fusão em um mercado já concentrado. Além disso, a conclusão dessa fusão depende do sucesso do processo de recuperação judicial da Gol e da sua capacidade de renegociar dívidas com credores. Ambas as empresas já conquistaram um respiro com a renegociação de dívidas com o governo brasileiro, que resultou em uma redução de cerca de R$ 5,8 bilhões nas obrigações fiscais das companhias.

O sucesso da fusão entre Azul e Gol pode redefinir o mercado de aviação no Brasil, mas o caminho até lá será cheio de desafios. Os próximos meses serão cruciais para entender se esse voo conjunto será de fato bem-sucedido ou se enfrentará turbulências que ameaçam o percurso. 

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